domingo, 1 de fevereiro de 2009

Despeito Marinado

Senso comum.
Cúmulo do senso comum.
Gravidez: esta palavra sintetiza o "ser senso comum".
Chorar por causa de leite materno. Por causa do desmame, mais especificamente.
Li tudo sobre gravidez, maternidade, aleitamento, enfim, o universo da mulher-mãe. Me preparei para tudo e foi tudo diferente o que pensei, mas como havia lido isso também...tudo certo. No entanto, uma coisa esá sendo unânime: que dor deixar de amamentar Marina!
Imaginei que seria difícil porque gosto muito desses momentos e percebo que faço malabarismos para não deixar de fazê-lo quando preciso cumprir algum compromisso fora de casa. Não se trata de achar que meu leite é insubstituível, inclusive ela tomou industrializado algumas vezes quando foi necessário. O momento, esse sim, é insubstituível.
O MOMENTO
Amamentar Marina significa poder passar duas a três horas longe dela, mas ao retornar poder continuar a conversa de onde paramos, enchendo-a dos acontecimentos vividos na ausência mútua. Conferir os mílimetros de crescimento das unhas, as dobrinhas, a temperatura de sua pele, que vai mudando enquanto se alimenta. Sabê-la forte, pontual, faminta, compenetrada.
Quando Marina está com fome suga com força, sem olhar mais nada além da mama, depois olha para meu rosto, abre as mãozinhas, relaxa, sorri, brinca.
O COMEÇO
Paulo e eu estávamos relembrando quão difícil foi para Marina "pegar o peito". Meus seios, grandes produtores de leite da melhor qualidade, empedraram e então fui doá-los na maternidade pública, onde me surpreendi com uma equipe muito bem preparada - só não consideram muito as demandas da mulher no processo de aleitamento, mas isso já é pedir demais para aquela instituição (depois trato em detalhes).
Foram dias longos, ofertando a mama a cada duas ou três horas e mesmo assim Marina não pegava direito, às vezes pegava e na vez seguinta parecia ter esquecido como fazer. Certa vez Paulo entrou e viu a cena: Marina gritando de fome com a boca aberta no meu peito, que pingava e eu, ao contrário do que sempre ocorria nessas ocasiões, estava calma, então ele perguntou "O que foi?" e respondi "Nada, não posso fazer nada, eu falei pra ela 'Marina, peito, dentro do peito leite, você precisa sugar, eu não posso fazer mais nada' " e meu amor deve ter pensado que era um surto psicótico, foi tentar ajeitar e deu certo. Ele ficou num orgulho só!
Até que num belo dia, do nada, ela mamou tranquilamente.
O FIM
Quando ela tiver 5 meses será hora de eu voltar ao trabalho. Será o fim da convivência diária, noturna, sem intervalos. Serão perdas muito grandes para ser vividas de uma vez, então eu quis minimizar isso e planejei começar o desmame neste mês. O outro motivo é que o pai ficará sozinho com ela e eu gostaria de participar da adaptação deles nessa nova fase.
Fui então a uma grande loja, passei 5 horas escolhendo mamadeiras, bicos diferentes, pratinhos, colheres, babadores e tudo quanto supus precisar. Tenho agora um cesto de palha com todos os apetrechos esperando para ser usados - e o peito na Marina.
Ainda há pouco pesquisava sobre desmame: "desmame humando sem dor" / "desmame sem sofrimento". Encontrei conselhos de especialistas, depoimentos de mães que já passaram por isso e tiveram a generosidade de compartilhar sua experiência, teclei com uma amiga rapidamente e falamos sobre isso. Estou tentando organizar tudo, dentro e fora de mim para essa passagem tão importante. Marina tem se saído bem com as mudanças, já eu tenho um processo demorado.
POR ENQUANTO
Sua tia Cláudia entrou em casa, colocou Marina nas pernas, conversaram, depois recolocou-a no carrinho e a tia se foi. Quando olho-a em braços alheios é que percebo como está grande, gorda ou "fofa". Nunca achei maiores graças em crianças serem gordas, mas parece que quando somos nós os responsáveis por elas queremos mais é que esteja bem alimentada e parece que "estar gorda" é a prova (outro "senso comunzíssimo", como diz o Paulo).
O caso é que me sinto orgulhosa da imagem dela e por saber que o alimento que sai de mim fez isso. O leite mais nossos cuidados durantes esses meses, é claro. Na verdade, não sendo hipócrita, é do meu leite mesmo que me orgulho, a "fofura" dela soa como atestado de competência, não há como negar.
O que sei é que decidi, agora mesmo, deixar para desmamá-la em março. Pronto. Acabou-se!

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