domingo, 12 de dezembro de 2010

Em menos de 60 dias / Fragilidade

Menos de 60 dias.
Em 16/10 Paulo acidentou-se quebrou o cotovelo esquerdo em duas partes. Passou por uma cirurgia 10 dias depois, colocou platina e vários parafusos. Começou fisioterapia, fez 15 sessões e a melhora tem sido pouca. Ficamos na casa de minha mãe até 05/12, quando Paulo voltou a dirigir. Estamos tentando marcar com especialista em Recife, pois a cada dia percebemos que será muito difícil que Paulo consiga voltar a desenhar ou pintar.
Em 27/11 estávamos em Jauá, próximo a Camaçari na Bahia, passeando. Surgiram 3 assaltantes, na areia da praia, atiraram. Por sorte ninguém ficou ferido. Levaram 3 máquinas fotográficas e um aparelho de celular. Atiraram contra uma senhora de 60 anos, um homem franzino de 51, três mulheres jovens e duas crianças de 2 anos. Um delas era a Marina. Marina, Paulo e Savana sofreram, juntos, seu primeiro assalto. Quando conseguir, vou escrever sobre o fato. Até hoje revejo a cena, mas não localizo a Marina. Em minha memória, Marina não estava ali; só consigo vê-la exatamente no momento em que a entrego a uma moça da casa onde estávamos para ir com Savana procurar a bolsa levada. Aí sim, vejo Marina, minhas mãos em torno de seu corpinho, e o rosto da moça que a recebeu. Aflita com essa memória, conversei com Paulo, que me deu uma explicação que parece plausível "Patrícia, você tirou sua filha dali, foi uma maneira de protegê-la". Penso que quando conseguir enxergá-la, terei vencido o trauma.
No dia em que voltamos ao apartamento Marina reclamou de dor na região do umbigo. Não quis comer. O mesmo ocorreu na manhã de 06/12 e à tarde caiu em febre de quase 40 graus. Levamos à Unimed e, sem auxílio de qualquer exame, a médico afirmou ser virose. Questionamos sobre a dor e a médica reafirmou o  diagnóstico. Questionamos o fato de não haver outro sintoma. E era virose mesmo. A febre não cedia, e quando passava o efeito da medicação...lá estava novamente. Na terça, enquanto eu estava no trabalho, Paulo retornou à emergência com Marina. Perguntou à médica plantonista o que faria em caso de convulsão, já que a febre vinha sempre muito alta. "É preciso ter uma tendência à convulsão, não é assim não..." e Paulo "Sim, mas e se ela tiver essa tendência?" Resposta da médica "Pense nisso não". Pauloinsistiu sobre os sintomas e desta vez a médica nem deixou a menina em observação. A febre continuou e tentei contato com a pediatra que a acompanha, mas estava com a agenda lotada. Insisti com a atendente, expliquei que não poderia esperar, contei o caso e ela disse que a doutora estaria de plantão na emergência na sexta-feira (10/12). Tendo feito muito mais perguntas, solicitou dois exames (sangue e urina) e foi constatada infecção urinária. Havia pus na urina da menina. O tratamento é de 10 dias, com antibiótico. Quando a médica disse isso, perguntei, fazendo enorme esforço para não chorar "Esse tratamento poderia ter sido iniciado na segunda-feira se tivesse sido pedido o exame de urina?" Sem olhar para mim, a médica disse "Sim, no de urina aparece". Uma semana de dor. De febre altíssima. De noites sem dormir. De dias mal vividos. O QUE LEVA UM PROFISSIONAL DE SAÚDE a ser tão negligente?!  E DOIS? E TRÊS, se for constatado erro médico na cirurgia do Paulo!?
O que leva um rapaz a disparar um tiro contra pessoas indefesas? Contra crianças? Nem por um momento pensei "Meu Deus, que mundo é esse?!" porque aprendi, quando era religiosa, que "o mundo jaz no maligno". Mas me pergunto, há pelo menos 15 dias "O QUE EU VOU FAZER?!" Porque não vou ficar de braços cruzados, por mais trôpego que esteja o meu andar, esperando o desfile dos horrores terminar. Por mais que faça campanhas pontuais, que tenha boa vontade, que ajude aos muito carentes. Por mais que ore, que escute, seja amiga, ame. Por mais que espalhe flores. O QUE EU VOU FAZER deverá ser mais forte e produzir mais efeito do que tudo que eu e Paulo fazemos e sempre fizemos. Nunca fomos omissos e menos ainda passivos. Lutamos contra injustiças, onde quer que estejam. E não vamos ficar quietos quando elas ocorrem com nossa família.

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