domingo, 27 de março de 2011

Minha ação por uma infância sem racismo


Esta postagem faz parte da BLOGAGEM COLETIVA do blog http://blogdodesabafodemae.blogspot.com/
Dizer que essa discussão é importante é pouco! É essencial, urgente e infelizmente atualíssima. Sim, é papo de mãe, de consultório, de trabalho, de fila de supermercado, de festa, de escola, e da blogosfera materna


Marina é(minha) filha única e a única morena das primas, tem uma irmã paterna de 25 anos que mora longe, longe, longe e é morena como ela. Marina é da cor do pai.
Presentes, bonecas, brinquedos, cores. Somos atentos a tudo que adentra o universo marinado e com os brinquedos não poderia ser diferente.
Há alguns anos, aguardando uma conexão no aeroporto de São Paulo, encontrei um stand de bonecas de pano "pretas". Eram lindas e de ótima qualidade, então comprei uma e iniciei uma coleção. Hoje penso que o anjo me soprou que eu teria uma filha moreninha que brincaria com elas.
Após o Dia das Crianças e aniversário de meu bebê fui arrumar seus brinquedos. TODAS as bonecas ganhas eram brancas. Os bebês, as barbies. Mais especificamente loiras de cabelos lisos. Ai ai ai. Juntei todas elas, guardei no roupeiro sem que Marina visse e deixei apenas as de minha coleção e duas brancas (para respeitar o sistema de cotas).
Antes disso havia deixado todas as bonecas à mão, mas minha filha só brincava com as brancas. Observei bastante, pensei se elas eram mais bonitas, divertidas ou atraentes, mas a única explicação que encontrei foi o fato de todas as priminhas só brincarem com bonecas brancas.
As crianças com quem mantemos contato são morenas claras (o Censo que se dane, mas é isso mesmo) e não encontramos bonecas assim. O que sei é que após a ação afirmativa que fiz com as brancas, Marina ainda passou uns dois meses brincando apenas com a loirinha que sobrou. Foi a primeira boneca que ela batizou (Vivi, nome de sua  única coleguinha loira). Um dia a esqueceu na casa da avó e então, na hora do banho, "Cadê Vivi?" então aconselhei "Pega outro bebê" e foi quando veio Clarissa, a segunda batizada. Não existe uma Clarissa na nossa vida, só a bonequinha mesmo, uma boneca negra linda, com quem Marina finalmente fez amizade.
Sinceramente, com essa ação, não pensei em proteger os outros de minha filha. Não pensei que ela possa magoar alguém por ser de outra raça e a estou educando para tratar bem a todos. Egoisticamente, pensei que se fizer essa separação, se deixar de ser amiga de pessoas negras ou morenas ou loiras ou deficientes pode deixar de ganhar vivências fantásticas, pode deixar de conhecer uma pessoa mágica - ou não. Só não quero que seu universo seja limitado.
Vivi retornou e agora vão as duas para o banho e para a cama: Vivi e Clarissa. Um dia desses Marina estava distante das bonecas, que estavam próximas a mim, e pediu "Me dá ela, mamãe" eu, com aquele olhar que o Garfield faz, pra lá de malicioso "Quaaaaallllll????" "Aquela, mamãe" não disse o nome, talvez tenha esquecido "A de cabelo"
E aprendi então, com minha filha de 2 anos e 5 meses, um jeito novo de apontar as pessoas, que não seja pelo tom de pele.
Vivi tem cabelo, Clarissa é careca. Marina é um doce.

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