quarta-feira, 13 de abril de 2011

A melhor mãe para Marina


A pressão sobre as mulheres sempre foi - é e será, até quando, não sei - enormes, imensas! No trabalho, em casa, na vizinhança. Participei ativamente de movimento feminista quando não era mãe e nem pensava mais em ser, mas assim que engravidei dei de cara com a Camila Pitanga fazendo propaganda de aleitamento materno. Poxa, Camila Pitanga?! Linda, maravilhosa, e o vestido que ela usava!? ra o Paraíso na Terra! Eu estava então numa maternidade pública aguardando minha vez de ser "ordenhada" porque minha filha, nascida há uma semana, ainda não pegara o peito. Olhei para meu marido: "Nem pense, viu? Sou humana, meu filho, vida real é sem photoshop, tou fora, pode esquecer!"
Me preparei para amamentar durante toda a gestação, dei banho de luz nos mamilos com uma luminária, pois saía para trabalhar às 6:20h e chegava em casa às 18h, ou seja nada de sol. Foi uma decisão, eu estava preparada para isso, mas Marina não pegava. Na segunda semana de nascida meu marido deu um tal jeitinho no ângulo do meu braço e foi a salvação - que ele levará como trofeu até o fim dos tempos, é claro!


Campanha de aleitamento materno em 2008
Mesmo com minha experiência (de vida, aos 35 anos, e de militância feminista) não fiquei imune a pensar algumas vezes nas exigências de todo tipo, não somente com relação ao uso da cinta. Sobre a cinta: a obstetra que me acompanhou, na primeira visita "E aí, mulher, tá de cinta? Não!? Compra a cinta, maridão, que é isso, vai querer a mulher feia!?"* Eu estava muito mal para falar o que pensei, mas respondi "Viu que minha filha está na UTI?" Nascida aos 8 meses, minha bruxinha estava com a glicose muito baixa e não estava mamando ainda, ficamos 4 dias no hospital, de onde saí depois de um quase escândalo porque só queriam nos "liberar" quando a menina mamasse. Como se eu fosse uma criminosa, estava presa. Numa maternidade (particular) que não tinha aparelho elétrico para fazer a ordenha. Febre, seios inchados, dores e dores. Mas tinha que ficar ali, pois em casa, eu - miolo mole, como qualquer mulher - desistiria de amamentar. Bom, só não falei palavrão e nem disse que amamentar era uma OPÇÃO minha e por mais que o governo queira - pelos motivos dele, dos quais não falarei aqui - só vou amamentar minha cria se eu quiser! Era o que eu pensava, mas se dissesse isso me metiam uma camisa de força. Porque mulher, já sabe, já não merece muito crédito, e parindo, então! Pois foi assim que me senti. Sempre discutimos sobre quão destratada é a vontade feminina, mas foi ali, rodeada de mulheres, que senti na pele como se minha vontade não valesse nada!
Marina nasceu em 31 de outubro de 2008 e no Carnaval seguinte aparece Cláudia Leitte em cima do trio, "pulando que nem pipoca". Para tudo, a mamãe vai tirar o leite para o bebê tomar em casa. A TV mostra o leite sendo levado às pressas numa valise térmica para um carro. Meu marido, vendo a cena "Leite podre, neh? Porque você não leu que meia hora antes de amamentar a mulher precisa estar descansada para não alterar a qualidade do leite? Que não pode nem fazer atividade física?" Anrram.
Eu havia lido sobre um psicólogo, Winnicott, que tratou de crianças do pós-guerra e desenvolveu teorias sobre a importância e efeitos do cuidado materno. Dentre outras coisas, li que "Segundo esse autor a mãe suficientemente boa (não necessariamente a própria mãe do bebê) é aquela que efetua uma adaptação ativa às necessidades do bebê, uma adaptação que diminui gradativamente, segundo a capacidade deste em aquilatar o fracasso da adaptação e em tolerar os resultados da frustração. (Winnicott, 1971)" Veja mais. Vixe, sou eu! Há muito mais coisas bem-ditas e benditas desse simpático senhor, mas para mim conhecer o escopo das ideias dele foi suficiente para bloquear qualquer vontade de ser supermãe. Bom, a Supermãe das propagandas, das matérias jornalistícas (são as piores, porque dão um teor de credibildiade ao discurso), das caixas de alimentos.
O fato, a verdade mesmo, é que eu sou mesmo a Melhor mãe que Marina pode ter :-) Dá um trabalhão, uma canseira, e um prazer enormes! Trabalho o dia todo, larguei a segunda faculadde para dedicar minhas noites a ela, costurei sua lancheira e jogo-americano para levar à escolinha, faço decorações ridículas no pratinho dela, dançamos, brincamos, lemos, fotografamos, ela fica de castigo também, é claro, tem o gênio dos pais, além da idade da birra. Normal. Supermãe. Na boa!

*A propósito, estava um calor danado, pleno Verão, sequer comprei a tal cinta!


Esta postagem faz parte da blogagem coletiva da Carol

Um comentário:

Cintia Fernandes disse...

Essa blogagem coletiva está sendo o máximo. Vc falou muito bem Paty... Infelizmente o mundo idealiza que a mãe perfeita além de amamentar, ser educadora, atenciosa etc... seja linda! exuberante. Mais linda e magra depois da gestação que antes. afff
Amo seu jeito de criar a Marina. Ah detalhe! A cinta nem fez falta em vc. Continua linda, magra e sem barriga como antes. hehe