sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Mês do Folclore & a escola

O Dia do Folclore (22/08) foi criado por lei em 1965 para homenagear a cultura popular. O nome vem de Folk (popular) lore (povo). Pensou que era tupi? nã nã ni nã não...puro inglês britânico. Mas era 1965, não havia ainda discussões sobre cultura brasileira, nem se sabia direito se o Brasil tinha algo de seu mesmo e talvez a instituição desse dia até tenha ajudado a preservar essa cultura.
Vou resistir bravamente e não discutirei cultura popular e erudita, brasileira e estrangeira, bairrismo e coisas afins. Afinal, este post é sobre uma mudança que se deu em mim por conta da Marina e sua trajetória escolar (ohhhh)
Cresci vendo apresentações de folguedos em praças onde os parquinhos eram montados e a gente torcia para o azul ou encarnado como na música do Djavan. Quando cresci mais um pouco e a vida me levou a estudar e trabalhar e trabalhar e estudar não me sobrava tempo para as pracinhas, mas quando resolvi revisitá-las as festinhas não existiam mais. No máximo um parquinho é montado lá na Praça da Faculdade, mas nada do palco onde o Pastoril se apresentava. Até 2006 eu assistia às apresentações de folguedos no Museu Théo Brandão, graças ao (Mestre) Ranilson França, mas com seu falecimento parece que tudo se calou. Ficou claro que ninguém o substituiria na luta de dar luz ao que possui tanta vida!
Apresentação de Pastoril alagoano



Agora vejo com tristeza o espetáculo do Coco de Roda "moderno" ou "eletrônico" ou "apoteótico" ou concurso de Quadrilhas de roda que acontecem em nossas festas de São João. Não acho que esse tipo de manifestação não deva existir, somente porque eu a detesto, mas não vejo porque só existir espaço para elas. Por que não há espaço para a cultura popular de raiz (parece redundância, mas não é)?
Chegando da escola em dia de homenagem ao Folclore
No dia em que Marina chegou assim da escola eu estava em férias e fui buscá-la. Durante todo mês a escola trabalhou o assunto e em casa buscávamos imagens e vídeos para mostrar como as danças e brincadeiras acontecem. Na mãozinha dela o Boi, que hoje tem lugar de destaque na estante do seu quarto. Antes eu achava caricaturesco o que as escolas faziam da cultura popular, mas agora vejo que a escola se tornou o salvador dessa memória. O problema é que as crianças recebem uma cultura trabalhada, de segunda mão, e não teria como ser diferente, pois a de primeira mão é aquela feita pelos filhos dos mestres de Guerreiros, dos puxadores de loas, das Dianas. Daquele pessoas de subúrbio que borda suas roupas, que cola cada lantejoula ou vidrilho e guarda tudo com cuidado e naftalina.
Minha mãe, quando adolescente, dançou com o Mestre Pedro Teixeira. Eu, em minha época, também. Então ele já era bem idoso mas mantinha o pulso firme em nossa marcação de dança do coco. Eu sempre pensava que se um dia tivesse filhos, eles também dançariam algum folguedo. Agora tenho uma filha atenta, interessada, que adoraria um tropé bem barulhento com os tamancos de madeira que já usei tanto para dançar. 
Só que ela nunca viu um folguedo legítimo e nem sei onde poderia aprender...

Um comentário:

Paulo Caldas disse...

quando marina chegou eu lhe dediquei esse poema que fiz para lhe dar as boas vindas... quero que cresça conhecendo essas manifestações folclóricas:


TRIPULANTE

Vem tripulante, vem navegar
Todos os mares morados em nós
Vem navegante, vem tripular
Todas as nuvens colhidas por nós

Vem ser brincante,
Ser palhaço, ser gigante
Ser teu passo, tua ponte,
Artesã de lua e céu
Vem ser poeta,
Ser teu alvo, tua seta,
Cantarolar minha festa
Rimas ricas de cordel

Serás balanço,
Leve sopro no caniço
Ao pouso do passarinhar,
Frondas de ninhos
Enxurrados de poesia
Tua canção de ninar

Vem viajante, vem ladrilhar
Ruas com o brilho do teu olhar
Vem tripulante
Ao cais na manhã
Ao aconchego de almas irmãs

Vem ser pastora
De acordes de sanfona,
Pular corda, ser diana,
Cirandeira beira mar
Vem ser folia
reisadeira mamulenga,
Boneca, pano de chita,
Sinhaninha costurar

Coco de roda,
Chapeuzinho de vaqueiro,
Bandeirola, boi bumbá,
Renda de bilro, lagoa, siri, taboa,
Uma canoa a te esperar

Vem tripulante vem navegar
Todos os mares morados em nós...