terça-feira, 24 de abril de 2012

De MARIA a MARIAZINHA


Capa do livro
 Você que está beirando os 40 anos vai lembrar de um livro feminista que bombou nos anos 80: De Mariazinha a Maria*, de Marta Suplicy. Nessa época eu era uma minifeminista e assim cresci.
Passaram-se os anos e quando tinha 36, exatamente 20 anos após começar a trabalhar fora, engravidei de Marina. Percebo então que tenho feito o caminho inverso e de Maria passo, paulatinamente, a Mariazinha.
Meu nome completo de solteira é Patrícia Santos Gomes, mas sempre assinei Patrícia Gomes, o que causava alguma confusão com os professores no início de cada ano na faculdade. Então eu explicava: “É que Patrícia Gomes é marca, professor, o senhor ainda vai ouvir muito falar dela”. Era uma brincadeira que refletia bem onde estava o foco da minha vida: no trabalho.
Uma amiga, na semana passada, falou positivamente do arranjo familiar que temos: eu, trabalhando fora e Paulo, que é artista plástico, cuidando da Marina e da nossa alimentação (desde as compras ao descarte, passando pela cozinha e deixando-a com os pratos limpos mas que nunca saem do escorredor). Ele desenha pelas madrugadas, seu momento mais produtivo, e cuida dos contatos enquanto Marina está na escola. Quando algum compromisso requer mais tempo apelamos para a casa da minha mãe e Marina adora quando isso acontece. Nunca tivemos empregada, faxineira, babá, nada parecido.
O marido dessa amiga acha que tenho o perfil dela, mais voltado para o trabalho, o que casaria perfeitamente com o do Paulo, mais caseiro. Então me vi obrigada a desfazer esse engano. Tanto para ele como para meus professores da facul, meus ex-colegas de trabalho, de pósssss, de infância e adolescência. Todos aqueles com quem discuti sobre onde seria o lugar da mulher.
Descobri, depois de ser mãe, que seria justo que pudéssemos realmente escolher o nosso lugar no mundo. E se eu pudesse, estaria em casa, cuidando de minha cria. Estaria lambendo, alimentando, aquecendo, ajeitando o ninho. Isso não acontece por ser financeiramente inviável, mas estou trabalhando (em todos os sentidos) para mudar essa realidade nos próximos 10 anos. Espero, daqui a 10 anos, quando tiver 50, estar semi-aposentada, trabalhando meio expediente e enchendo o saco da Marina - adolescente.
Continuo feminista e é justamente uma dimensão mais ampla de feminismo que me permite planejar parar de trabalhar, reconhecendo sempre o “trabalhar fora” como uma conquista importante para as mulheres. Conquista histórica e moderna, pois a luta – para muitas – ainda nem começou. Reconheço a liberdade da mulher em escolher o que fazer de sua vida. E o que quero fazer da minha é virar Mariazinha.

*Marta foi irônica no título e o fez acertadamente, pois era uma época em que só era possível chamar atenção para qualquer causa feminina fazendo muito barulho. Parece preconceituoso, mas os termos Maria e Mariazinha foi apenas uma forma de apontar as diferenças entre a mulher independente e a “outra”, a que precisa de apoio para se libertar.

3 comentários:

A Doceria da Tathy disse...

Patrícia, seu texto é perfito. Amei o que vc escreveu e me identifico muito com isso: "Reconheço a liberdade da mulher em escolher o que fazer de sua vida. E o que quero fazer da minha é virar Mariazinha". Se vc ainda não leu, eu te recomendo que procure um livro de Laura Gutman: A maternidade e o encontro com a própria sombra. Tem muito a ver com as nossas decisões pós maternidade. Bjsssss

Futura mãmã disse...

Gostei do que escreveu rs :D

Ruby Fernandes disse...

Olá Patrícia!
Tudo bem? O piso daqui de casa é o piso laminado da durafloor. Veja o site deles: http://www.durafloor.com.br/Durafloor/web/
Não sei se pode ser aplicado em cima do piso existente, mas acredito que sim.
Bjo flor =)