sábado, 12 de junho de 2010

É cor de rosa..."é bêu"

Quando era criança eu tinha uma bola linda! Ao contrário das outras, essa durou bastante tempo. Lembro-me dela já arranhada, sem brilho, mas guardava sua mágica. Era de plástico vermelho-róseo transparente e (ao que me parece) algumas camadas por dentro traziam uns pedacinhos de cores em formatos irregulares...era a sua magia! Nada mexia ou brilhava ou "barulhava" (como dizia a Clarice) mas eu pegava aquela bola e ficava girando-a bem perto dos olhos, com o nariz colado nela sentindo o cheiro de borracha suja. O mundo se transformava numa massa avermelhada com imóveis confetes coloridos. Acho que eu passava horas ali (imagina se alguma criança passa horas fazendo a mesma coisa...). Lembro que tentava descobrir como aquelas coisinhas coloridas estavam ali, se havia mesmo camadas de plástico ou qual seria seu segredo.
A bola se foi, a infância também. Há alguns anos encontrei a tal bola. Mais fuleira do que a Canarinho - sim, aquela bola que a gente jogava e ela ia para onde queria, e se caísse na água murchava quase que instantaneamente. Era igual à da minha infância, mas olhei-a e não vi mais a magia de antes.
Daí nasceu Marina, algum tempo depois dessa encontro, e dia desses quis comprar-lhe uma bola, então voltei a pensar na bola mágica. Entramos numa loja de brinquedos e havia uma cesta enorme cheia de bolas de todas as cores e tamanhos...e uma quase cor-de-rosa, quase murcha, quase parecida com a "minha". Marina agarrou-se a ela e acho que pensou terem nascido uma para a outra, tamanho foi o grito que deu quando as separei. Saimos dali sem qualquer bola porque Paulo não concorda que a Marina tenha bola - é perigoso...assim como tudo o mais que se move neste mundo! - então vou esperar mais um pouco para comprá-la.
Saindo dali vimos, noutra loja, um chaveiro cor-de-rosa. Repete-se a cena: vários chaveiros de várias cores, mas o rosa é dela! Fomos ao supermercado e a cena foi se reeditando com todo e qualquer produto que lembrasse a cor rosa.
Voltei para casa pensativa. Eu, que sempre fugi da cor única, do rótulo, da marca, do estigma, tenho uma filha de um ano e meio que nem fala mas tem uma "cor predileta". Predileção imposta, é óbvio. Pelos presentes que recebe, pelas universo de brincadeiras e roupas das primas e suas coleguinhas, enfim, pelo mundo que o mercado lhe apresenta, o mundo cor-de-rosa.
A decoração do quarto de Marina não tem essa cor. Em nada. Nem um bordado rosa, o que foi uma proeza. A única peça em tons de rosa e lilás são a farmacinha, que hoje está dentro do guarda-roupa.
Há mais de uma mês tentamos comprar uma sandália para Marina, que não seja ou não tenha cor-de-rosa. Que dificuldade! Seu pezinho fino se dá melhor com sandálias de velcro, difíceis de encontrar. À semelhança das sandálias para as mulheres: as mais bonitas são muito desconfortáveis! Será que querem que as meninas cresçam acostumadas a isso!? hummmmmm.....pode ser, não duvido.

Hoje vi sandálias com velcro, beges e cinzas e verdes, numa vitrine. Entrei e pedi:
- Você tem sandálias número 21?
- Pra menino ou menina?
- (2 segundos) Tanto faz. Na verdade eu não havia percebido que escolhera "para meninos"
- (3 segundos) Você quer cor neutra, né?
- É!
Para mim Marina vai usar sandálias confortáveis e de cor neutra, mas sei agora que a verão com sandálias "de meninos". Comprei uma de fivelas, muito confortável, cor marrom claro.

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