segunda-feira, 26 de julho de 2010

Festa da Chupeta - relato

Marina é boa de boca (para comer, gritar...), só que seus dentes demoraram umpouco para surgir.
Demomamram quanto? Com relação a que parâmetro? Pois é. Com relação à maioria das crianças, demoraram. Com relação ao pai, foi no tempo certo, ou seja, "puxou a ele".
Aconteceu que, um dia, brincando com Marina, Camilla e Clarice eu falei: "Quando os dentinhos da Marina nascer, eu dou uma festa" e as meninas me seguiram "A festa do dentinho!". Os danados nasceram, hoje são quatro e há dois despontando há mais de um mês. E nada das meninas esquecerem, pois prometi que nessa festa elas cozinhariam. Saí em férias e decidi cumprir o prometido. A seguir um breve relato da festa dos dentinhos, que se realizou no dia 17/07/2010, sábado, a partir das 15h.

PREPARAÇÃO
Eu, as gêmeas (Camilla e Clarice), a coleguinha delas Alice e Marina compramos os descartáveis e TNT, tudo na cor verde, para fugir do cor-de-rosa, depois explico porquê. Preparei umas caixinhas com kit cozinheira: caderneta de anotações com desenho feito pelo Paulo e nome RECEITAS / FESTA DOS DENTINHOS, lápis, touca e luvas descartáveis, panelinhas de brinquedo e convite num cartão envelopado, tudo pequeno para caber na caixinha.
Preparei os aventais, com o TNT verde, fitas de seda, passamarina e aviamentos que eu tinha em casa.

AS PEDRAS
Na véspera da festa, que teria sido uma semana antes, as gêmeas adoeceram, então tivemos que cancelar. Perdi alguns ingredientes, que não poderia guardar para a semana seguinte, então resolvi que compraria tudo de novo quando todas confirmassem a participação. O que só ocorreu no dia da festa. Também dependi de uma batedeira emprestada, que quando testei - estava quebrada. Então corremos para o plano B, pedir à família do Paulo.
Na sexta-feira, fomos buscar as gêmeas, e SURPRESA, além delas, a Débora também dormiria aqui. Tudo bem,não atrapalharia em nada, Débora é desenrolada e não dá nenhum trabalho, ótimo!
Sábado: SURPRESA! Outra amiguinha, que não tinha sido convidada porque mora muito longe equase nunca aparece, ligou avisando que passaria o findi com as meninas. Minha mãe me ligou e pedi que desse nosso endereço para a mãe de Laura trazê-la diretamente para cá. 9 h: SURPRESA liga o irmão do Paulo dizendo que vai deixar as meninas mais cedo, por conta de compromissos. Paulo estava se arrumando para sair, para comprar as formas do tamanho que a receita pedia. Bom, cozinhar para 9 pessoas e deixar a cozinha limpara até as 14h seria impossível, então decidimos almoçar fora.
Paulo saiu e ficamos aguardando as sobrinhas do Paulo, que não chegaram. Às 11h saí a pé com as 4 maiores e minha Marina, fomos à Churrascaria próxima ao GBarbosa almoçar e aguardar o Paulo lá. Ele chegou lá pelas 12:30h e quase não achou as formas...eita cidadezinha dos confins do mundo!
Pedi para minha mãe avisar à Cicinha que atrasasse um pouco. Nisso tudo, eu sem crédito no celular. E o Paulo também, então minha mãe fez a "ponte telefônica".
As sobrinhas do Paulo chegaram e não puderam esperar, foram embora - com a batedeira. Mas depois voltaram - com a batedeira :-) Mas o melhor foi elas terem voltado, eu estava arrasada por terem ido embora.
Ah sim, fui fazer as compras ena hora de pagar o computador desligou. Do nada.Para o nada, para o vazio infinito do meu olhar atônito. Para adiantar, eu já tinha até colocado as compras no carro. Pedi ao Paulo para ir com as meninas (5) e eu iria depois.
Infelizmente, ainda fiz Cícera, Bia e Seu Elias esperarem...afff nunca mais outra! JURO QUE SEREI A MAIS PROATIVA DAS ORGANIZADORAS DE FESTA A PARTIR DE 17/07/2010!

A FESTA
Quando estavam cozinhando, a Laura disse "Gente, vamo logo, ta quase na hora da festa" e Bia disse logo "A festa já é!" A Bia rapidinho havia encorporado a novidade, entendendo o novo molde de festa,o novo paradigma, demonstrando uma capacidade deliciosa de adaptação.
Pedi que decorassem seus aventais, com lápis de cera, e os deixassem com a "sua cara".

CADA UMA E CADA QUAL
Marina, como sempre faz em dias de festa, dormiu. Minha mãe chegou lá pelas 17h e a acordamos quase às 18h. Ainda estou tentando o processo dela...
Seria fácil descrever o comportamento de cada uma das meninas naquele dia, pois estive muito atenta e elas, muito à vontade. Débora e Ananda tomaram a responsabilidade do bolo, e talvez por serem mais velhas não deram muito espaço à participação de Bia e Laura. De todos os cantos da casa ouvia-se a Laura "Eu não consigo fazer nada, ninguém me dá nada..." O bolo, de cada, deu errado, por não seguirem a receita. Quando apontei o ocorrido tiveram que jogar a massa fora e recomeçar. Nesse momento, Laura e Bia saíram de fininho, afinal, já não deixavam elas trabalharem, ainda iam colocar a culpa nelas kkkkkk Vai ver foi isso que pensaram.

Tentaram ajudar com os sanduiches, mas Yasmin, Camilla e Clarice já tinham adiantado uma boa parte.

Foi quando lembraram do brigadeiro de copinho. Essa foto é inhusta, pois isso aí foi só no final, depois de terem feito os brigadeiros, colocado nos copos, enfeitado, aprontado a mesa e tudo o mais. Foi a saideira, o descanso do guerreiro, a forra...ou a farra, como queiram.
A decoração da mesa tambémficou por conta delas, masfoi Yasmin quem se adiantou e preparou tudo. Muito silenciosamente ia terminando um serviço e já fazendo outro. Também preparou uma decoração bem legal para os sanduiches que levavam morango. De preguiçosa, não tem nada mesmo, só para contrariar o que a irmã fala dela :-)
Laura, da meninas de 8 anos, é quem mais ficou à vontade, explicando até como se trata uma galinha, pois acompanha a mãe e a babá na cozinha. Clarice, apesar de sempre dizer, no meio da tarefa, que "Madatia, descobri outra coisa: também não gosto muito de cortar batata" até que trabalhou, mas percebi que o estímulo foi a crítica das parceiras e não as minhas. Camilla, como Yasmin, ficava mais calada, e também cumpriu o que lhe cabia. Bia era um caldeirão de ideias, desde o momento dos aventais, do nada lávem o grito "Eita, porque não pensamos nisso antes, se é festa dos dentinhos, a gente devia desenhar os dentinhos da Marina!" E o "pensamos" tão corretamente colocado demonstra a personalidade grupal que ela tem. Quando viu as quatro velinhas no bolo ficou pensativa, virou a cabeça para umlado, para o outro, olhou para mim, que jáolhava para elasorrindo e disse "Ela tem quatro dentinhos, né?" e quando eu dissesim, deu um suspiro aliviado, daqueles de descanso, que a gente dá quando está diante deum grande problema a ser resolvido. Ananda e Débora se deram bem com o bolo, Ananda arrumou uma solução criativa para a cobertura, já que o material foi pelo ralo no início da receita. Débora parece já entender bem de cozinha, opinou, mas não impedia as meninas de trabalhar, é participativa e muito dinâmica. Já Ananda, lutava para conseguir uma tarefa e quando a coisa cansava, gritava "Déboraaaaa, pega aquiiii" Foi assim com o brigadeiro, porque não deixei as menores mexerem a panela no fogo...quando o chocolate começou engrossar lá estava Ananda chamando a Débora, mas intervi e disse que levasse a tarefa atéo fim, pois havia feito questão de tê-la para si. Não imaginam como certas funções foram concorridas!
Procurei interferir o menos possível. Avisei que a receita do bolo estava errada, quando percebi que não haveria conserto. Chamei atenção para não se aborrecerem, algumas ficavam estressadas e se alteravem, e repeti várias vezes que estresse envenena e altera o alimento - Yasmin veio a mim e disse que sente diferença na comida de casa quando é feita com estresse. Intervi no caso da Ananda e de Clarice (várias vezes) e suas autodescobertas incríveis de "também não gosto disso". Quis que entendessem que mesmo não gostando, precisamos terminar o que o grupo nos confiou, porque senão as coisas poderiam dar errado ou simplesmente não sairem. Também pedi que lavassem o que fossem sujando. Ninguém - além da Clarice - reclamava de limpar ou cortar ou montar ou lavar ou ler as receitas, ao contrário, todas queriam fazer mais, ajudar.
A cozinha ficou limpa e arrumada, dentro da possibilidade delas, é claro. (Até quarta-feira eu ainda estava limpando coisas)
Nesta foto, as cozinheiras e Marina, recem-acordada: Bia, Yasmin, Camilla, Marina, Clarice, Laura, Débora e Ananda. Fora da foto: minha mãe, sua amiga Elaine e Cícera, mãe de Bia. Mais tarde vieram Minho e Francisca, pais de Yasmin. E eu, que fiz as fotos.

ESCLARECIMENTO
Alguém me perguntou porque uma feminista preparar uma festa assim. Primeiro, porque prometi e sabia que as meninas adorariam. Segundo, porque TODOS devem saber e fazer as tarefas domésticas. Vejo as meninas sendo educadas para terem empregadas, mas o mundo tem mudado e está cada vez mais complicado manter um empregado doméstico. O pior é as meninas crescerem vendo que as empregadas são mal-remuneradas, fazendo sozinhas um trabalho que todos em casa detestam, e que no fim das contas é o trabalho que permite a todos na casa viverem com certo conforto e descanso.
Quem me dera mesmo que essas e outras meninas pudessem entender que uma comida bem feita alimenta a alma também, fortalece laços, demonstra afeto, é alquimia! Que arrumar a casa é deixar tudo preparado para rolar no chão, brincar, se divertir, andar descalço. Que arrumar cama é deixar o quarto com cheiro bom e a cama com cara de "me desarruma".
Se, ao contrário, sempre que vou arrumar a casa, xingo todas as gerações anteriores e futuras, reclamo dos brinquedos espalhados, bato nas panelas e arrasto as coisas da mesa ao invés de arrumá-la...como vou conseguir mostrar algo bom para a Marina? Como posso pedir que fique em casa comigo, que compartilhe da arrumação comigo e Paulo? Sei que minha pequena terá uma visão positiva de casa e dos trabalhos domésticos, pode até não gostar muito de fazê-los, mas o trabalho será compartilhado e não sobrecarregado - para nenhum de nós.

CONCLUSÃO
"Nunca mais, faço outra!" Foi o que eu disse para minha mãe, no meio damuvuca. Ao fim de tudo, antes de irmos para a sala, chamei todas na cozinha e perguntei o que acharam, pedi que dissessem os pontos positivos, negativos, o que mudariam e o que repetiriam. A reflexão foi delas e prefiro não compartilhar desse momento do grupo. Mas enquanto cantávamos os parabéns para os dentinhos (a cada velaacesa, uma cantoria) eu já pensava como seria a próxima festa.
Dá um trabalho enorme, cansa horrores, mas acho importante mesmo momentos assim. E me divirto, acreditem!
Ahhhhhhhhhhh não poderia deixar de falar: PAULO se mostrou um homem transformado! Festas costumam estressá-lo, mas desta vez ele foi a paciência em pessoa. Fiquei mil vezes mais apaixonada, foi muito massa mesmo (mas tive que prometernunca mais deixar as coisas para a última hora, é claro).
Mais fotos em http://www.flickr.com/photos/marinices/sets/72157624427288569/

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