terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um capítulo ocultado: depressão pós-parto

Há 2 anos e 2 dias Marinasceu. Era uma menina saudável, como ainda é. Meu marido estava nos apoiando em tudo, bem como minha mãe e as pessoas que poderiam nos ajudar. Estava tudo bem - menos eu. Menos, dentro de mim. Menos, meu corpo, que só vivia cansado, que às vezes tinha suadeira, taquicardia e umas coisinhas quer na TV chamam de síndrome de pânico, MAS que só aflige aos outros. Principalmente aos que aparecem nas reportagens, e portanto, estão bem distantes de nós.
Quando minha nêga tinha 9 meses engravidei novamente e no dia em que o bebê faria 3 meses eu estava internada fazendo curetagem. Mas o drama não terminou por aí. Meses depois, apareci com uma gestação psicológica, justamente quando se aproximava a data de o bebê nascer. Abril. Páscoa.
Durante todo esse tempo estive muito frágil, sofrida, a dor alheia era uma facada em meu coração aberto. MAS, como eu não estava na TV, nem nas reportagens das revistas e nem apareceu ninguém para me dizer "Oxe, parece q tu tá com depressão por parto" eu fui ficando com essa coisa, leve, me levando. Até que a "gestação" apareceu e percebi que estava entrando num limite complicado, procurei minha antiga terapeuta e em 3 sessões eu estava melhor, meus seios e barriga desinchados e não produzia mais leite. Acabou-se a gravidez.
A salvação mesmo foi que precisei fazer um exame ginecológico invasivo e quando fui marcar era necessário conversar com a médica antes. Nessa conversa, falei que desde o parto ficara com medo de injeção...então pedi que descrevesse o procedimento e conforme ela ia falando eu lembrava da curetagem, pois era tudo muito parecido. A voz foi ficando embargada, os olhos marejados e eu, que apesar de muito sensível dificilmente choro na presença de alguém, estava ali totalmente fragilizada. A médica disse que suspeitava que eu estivesse com "depressão pós-aborto", receitou antidepressivos e sugeriu acompanhamento psiquiátrico e psicológico. Disse que poderíamos esperar mais 6 meses sem prejuizo da minha saúde, pois prejuizo maior eu poderia ter se "me forçasse àquele estresse". Fiquei tão grata a ela, que chorei, e então percebi que precisava mesmo de ajuda. Não tomei os remédios, pq já fiz isso no passado e sei como é um tratamento sofrido - foi para mim, pelo menos. Conversei com Paulo, porque precisaria muito de apoio, e decidi fazer terapia e alterar algumas rotinas, alimentação, tomar polivitamínicos e só se isso tudo não desse certo, partiria para a consulta psiquiátrica.
Quando retornei à terapia e fiz o resumo de tudo, Katiana achou que na verdade eu tive depressão pós parto, que se agravou com o abortamento, pois na verdade eu estava apresentando sintomas de estresse pós-traumático, podendo precisar ou não de medicação.
Li muito na Internet sobre o assunto e vi que para depressões leves (meu caso) os antidepressivos muitas vezes não surtem efeito positivo, fazendo o paciente sentir mais as reações adversas do que os benefícios da droga.
O pesadelo terminou em meados de abril. De lá para cá tentei alguns tratamentos contraceptivos que me levaram a quadros de semiloucura, então parei com eles também. Ainda preciso fazer atividade física, espero que isso minimize minha TPM, que ainda me deixa mal em alguns meses. Para ela, Gamaline V nos quinze dias que a antecedem - receitados por gineco e masto que me acompanham.
Num dos sites que pesquisei li o desabafo de uma filha que lida com a depressão severa de sua mãe. Ela dizia que era um absurdo a gente querer que o paciente de depressão indique que está doente, pois ele simplesmente nem sabe o que tem até que a situação esteja bastante ruim! Por isso resolvi postar esse "capítulo" de Agora que sou mãe... . Como pedido e como alerta, para que olhem mais de perto os amados ao seu redor, e mesmo se lhe causar muito sofrimento perceber que o outro não está bem, nem equilibrado e nem feliz, entenda que você é mais forte e que vai poder contar com ele depois, mas neste momento é ele quem precisa de ajuda.

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