sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

VIDA DE ARTISTA - e de mulher de artista

Hoje meu marido, que é artista plástico, participou do programa  Vida de Artista da Rádio Educativa. Foram duas horas de programa e estavam presentes artistas visuais e músicos. A certa altura, quando Paulo disse que "em casa quem cozinha sou eu" a apresentadora fez a maior festa "Olha, o homem que toda mulher pediu a Deus!". Em menos de 1 segundo recebo um torpedo de minha amiga Patrícia "O homem que toda mulher pediu a Deus kkkkk"
A conversa sobre cozinhar foi porque Paulo havia feito uma salada e ao ficar pronta ele enxergou "um cavalo de tomates numa selva de alface". Ele prontamente fotografou a tal arte efêmera.

Foto de Paulo Caldas
Patrícia, minha amiga, é daquelas a quem a gente pode recorrer no meio da noite aos prantos e se despedir de manhã e fazer isso 300 vezes que ela vai nos receber com o mesmo acolhimento. É para ela que falo os detalhes sórdidos da desarrumação da casa quando chego à noite e sobre os problemas impublicáveis que todo casal tem. O torpedo fazia menção justamente a esses segredos que todos temos e festejei muitíssimo que sejamos tão cúmplices a ponto de estarmos ambas ouvindo à entrevista e também porque ela, numa frase, resumiu a relação de amizade que nós temos.
Continuando a entrevista Paulo leu um poema que fez enquanto passava sobre um rio, numas das inúmeras viagens que fez em nome da arte:
RIO MULHER

Todo rio é uma mulher
Que se abre em marés,
Remansos, comportas
Recantos, rotas,
Fertilidades de igarapés.
Todo rio é uma fêmea vaidosa
Que a cada curva se despe sinuosa,
Ciosa de cio e de prosa...
Todo rio é uma rosa
Que se abre mulher.
Num leito se esfrega,
Sorri uma entrega,
Transborda e trafega
A caminho de tornar-se mar...
O poema ficou tão bem lido que parecia uma música e foi aplaudido pelos presentes. Daí retornei o torpedo "Aí sim, o homem que toda mulher quer!" e fiquei então a pensar nisso de ser mulher de artista.
Acho que existe mesmo um quê de mistério em se relacionar com alguém de universo tão diverso e restrito. Há colegas minhas que pensam que só temos papos intelectuais, outras acham que vivo de poesia e coisas do tipo. É ÓBVIO que o universo dele não é o meu, os amigos e colegas dele jamais fariam parte do meu círculo de amizades se ele não existisse em minha vida, e para danar a coisa ainda um pouquinho temos 13 anos de diferença na idade e sou contadora e trabalho numa empresa pública. Adoro uma planilha e jamais veria o cavalo no tomate. PARÊNTESES Um dia peguei algumas caixas e empilhei, jurando ter feito um castelo e perguntei à Marina o que era...ela respondeu "Muitasss caixasss"... pois sou eu assim!
E o bom de ser mulher deste artista é que ele cozinha, cuida da nossa filha durante todo o dia, fez músicas e poemas para mim NO INÍCIO DO NAMORO (mas toca e lê para mim até hoje, vdd seja dita). É fato que não gosta de filme lento iraniano ou de arte, mas gostou de Meia Noite em Paris e assiste a quase todas as comédias românticas que eu loco.


Meus amores clicad@s por Marina

Durante a entrevista Paulo retomou um assunto polêmico, uma exposição sobre Aurélio Buarque de Holanda em 2010. Estamos em 2012. A expo foi em 2010 e produziu um acervo riquíssimo! ATÉ EU achei a qualidade dos trabalhos muito boa e essa opinião foi compartilhada por quem entende de arte no estado. Pois bem, terminada a exposição, cada um vai lá e recolhe sua obra, leva para casa ou joga na fogueira. Desde 2010 Paulo tentou por todos os meios (jornais, secretários de cultura, professor@s de arte, sindicalistas, artistas, etc) fazer com que o poder público preservasse o acervo, colocasse-o num museu em exposição permanente depois de levá-lo a outras cidades e mostrá-lo no interior de Alagoas. Desde 2010 meu amor vem falando sobre o descaso com esse fato e sobre outros. Um chato, né? Até fez um Grupo no Facebook para discutir artes em Alagoas que nunca rendeu nenhuma discussão, mas uma entrevista no site Cada Minuto onde mais uma vez meu artista fez a crítica que não sei quantos (não sei mesmo) conseguem fazer a respeito das artes visuais em Alagoas.
Quando o ouvi, pela enésima vez trazer esse assunto à baila, depois de ouvir n vezes "Nunca mais vou falar sobre isso! Com ninguém!" admirei-o como devem fazer as mães de bailarinas quando as veem no palco interpretando um solo. Não sei de onde vem sua força, de que poderosos pulmões retira fôlego para insistir em falar no que tantos nem pensam mais, no que outros tantos nem observam, para falar sobre o que eu mesma não teria levado nem para 2011!
VIDA DE ARTISTA, o programa, é muito bom! Vida de artista que não tem dinheiro é uma $@#*!, uma saga, um karma, uma luta diária, medonha e eterna.
Mas o que eu sei mesmo é que se Paulo, ao invés de artista, fosse borracheiro ainda faria comida e cuidaria de nossa filha, escreveria poemas e luares, com caneta ou pincel ou lápis ou borracha, mas seria um homem bravo, forte, persistente, humilde - e dos melhores borracheiros que já se viu!

Em nossa primeira casa

4 comentários:

Gal Monteiro disse...

Olá, moça! Muito obrigada pela alusão ao nosso Vida de Artista. Fazemos o que gostamos e isso faz a diferença. Eu diria que vc é, sim, uma mulher de sorte porque convive com a poesia e, mesmo que ela não sustente o corpo faz um bem enorme ao espírito. Apesar de ser o "feijão" da casa, seu grande mérito (apesar de não conhecê-la) é aceitar e entender o "sonho" da casa. E, aliás, alguém tem de ser mesmo o "feijão" e vc parece desempenhar bem esse papel. Assim, juntos, o feijão e o sonho. Faço votos de que dure para sempre. Felicidade a vcs e à herdeira. Continue ouvindo e vendo o nosso Vida de Artista, fiquei muito honrada. Abraço grande.

Gal Monteiro

Cintia Fernandes disse...

beee... que post. tow toda arrepiada! ele tem que ler isso!
acho que paulo fez uma bela arte na noite anterior.
kkkkkk
amo vcs! admiro demais vcs!

Paulo Caldas disse...

surpreso!!!! quando brigo com a mulher do artista, esta me esculhamba e me desmantela. aí eu digo: quando eu morrer e for famoso vc vai chorar se alguém lhe entrevistar para saber de mim, dizendo estar com saudades e que eu era o maior, o mais maravilhoso homem, marido e pai do mundo.
eu nem morri e ela já está se desmanchando em elogios desse jeito. imagine depois que eu estiver lá pra riba! mas, quero falar dessa postagem que ela 'me' fez. me fez por q é, para mim, uma homenagem. ela tem um texto leve e direto quando fala para mim. e seu texto tem um viço que me comove...
ser "O homem que toda mulher pediu a Deus kkkkk" não é difícil, quando se ama. cozinhar, coisa banal, torna-se uma arte, um ato divino que de vez em quando escorrega numa comida sem sal ou noutra ligeiramente queimada ou salgada, mas que não deixam de ter o sabor da minha entrega. gosto da experiência de ser seu marido e dela cuidar, como cuida de mim e da nossa filha. Sendo assim estamos nessa viagem num cavalo vermelho, cor do amor e da paixão, atravessando selvas que ao longo do trajeto parecem de alface e tornam-se saborosas... como o rio mulher transbordamos e trafegamos a caminho do grande mar.

Chris Ferreira disse...

Oi Patrícia, eu vi sim o cavalo numa selva. Até fiquei com vontade de faer para as minhas filhas.
LIndo o poema que o seu marido fez e ser mulher de artista deve ter sim um quê de especial. E uu acharia que só rolava papo cabeça em casa.

È muito bom ter amigas assim com essa cumplicidade, né?

Olha, ri com o castelo monte de caixas. E amei como você concluiu o texto falando do seu marido.

Muito obrigada pelo comentário no MMqD. Eu deixei uma resposta lá para você, tá?

beijos
Chris
http://inventandocomamamae.blogspot.com/