domingo, 11 de março de 2012

TESTE DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

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O ponto de partida para essa reflexão é o questionário da pesquisa TESTE DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA, pois consegue ser um olhar para trás e para dentro ao mesmo tempo. Seria meu ponto de partida para este texto até que, hoje cedo, li o post de uma portuguesa de 19 anos, a linda Miriam, que está às portas de receber seu primeiro bebê e conta – sem nenhuma citação de violência obstétrica – o que está sentindo acerca de tudo que envolve esse momento.


Saí de lá diretamente para cá, ainda mais diposta a escrever e divulgar a EXISTÊNCIA desse tipo de violência. Para isso, vou fazer a coisa mais simples do mundo: falar sobre o que vivi nas duas gestações que tive.
Minha filha nasceu aos 8 meses e na véspera de seu nascimento fiz uma ultra e foi constatado que minha bolsa estava quase sem líquido. O médico ligou imediatamente para a minha GO, que não deu muita atenção ao que ele relatava. Meu marido, filho de obstetra aposentado que foi um ótimo profissional, era muito confiante nos médicos – já eu, sou o oposto. Saí dali e liguei novamente para a médica, que me disse para eu ir trabalhar normalmente (moro numa cidade e trabalho em outra e o percurso de 1 hora e meia é feito de ônibus!) e “aparecer” lá no consultório à tarde. Esperei meu marido dormir e corri para o Google...tudo dizia que minha situação era séria e todos os relatos com nível de líquido maior do que o meu apontavam para parto emergencial. Às 4h da manhã, depois de uma noite sem dormir, acordei meu marido para irmos à emergência. Expliquei o que havia lido na net e a contragosto (porque ele achava mesmo que devíamos confiar nos médicos) lá fomos nós. A primeira coisa que o plantonista me disse “Primeiramente, você deve confiar em sua médica” e olhei para ele com a cara que dizia “Se confiasse, não estaria aqui, alôou”. Pediu um exame do coração do bebê, que fiz numa clínica próxima que só abria às 8h. Estava tudo bem, mas Marina não estava mexendo como sempre fazia. Não fui trabalhar, voltei para casa e fiquei observando-a e esperando a tarde chegar. Lá, a médica ainda quis marcar para 4 dias depois, pois naquela tarde ela tinha um enterro para ir (anrram), mas quando falei que minha filha não estava mexendo e isso não era normal, imediatamente me mandou para o hospital, ligou para a equipe e marcou para o fim da tarde “Depois do velório que eu tenho que ir”.

Àquela altura do campeonato eu não era mais uma pessoa, era uma ovelha indo para o matadouro. Estava aliviada porque sabia que tinha que ser naquele dia, mas não tinha a mínima ideia do que aconteceria. É impressionante como eu confiava que daria tudo certo e quão insegura e destroçada me senti nos dias que se seguiram.

Eu lá sabia que iam me amarrar? Ali então é que me senti o próprio Cristo. Quando Marina chorou eu também chorei aí lá vem o anestesista ao meu ouvido “Não chore, não chore, vai se encher de gases!”. Graças a Deus o pai estava ali e acompanhou quando a levaram, pois quando foi visitá-la na UTI haviam TROCADO o nome da mãe. Paulo reconheceu o rosto da nossa filha e insistiu que trocassem o nome da mãe...insistiu significa dizer que as enfermeiras demoraram para acreditar nele e reparar o erro, viu?

Durante toooooda a gestação a cada mal estar que eu relatava a médica sorria e dizia que era normal. Fui à emergência algumas vezes com dores na barriga e a história do “é normal” se repetia. Praticamente diziam, entre bocejos, “Mãe de primeira viagem é tudo igual”. @s familiares e colegas de trabalho eram iguais. Durante os quatro primeiros meses da gestação sofri muito com enjôos e não podia reclamar não, porque era coisa da gravidez.

Depois veio o drama da amamentação, que foi contado aqui. Dois anos depois descobri que provavelmente sofri depressão pós-parto, o que já relatei aqui também.

A perda de meu segundo bebê foi uma dor terrível! Quando soube que estava grávida parece que renasci! Havia recebido outra chance de ser feliz, me sentia bem, bonita, vaidosa, animada, menos enjoada. Com a experiência da primeira gestação já não seria o cordeiro que fui, finalmente teria algum controle sobre as coisas, teria voz e força para decidir. Foram os 3 melhores meses da minha vida! Daí veio a gripe aviária e como trabalho no aeroporto minha GO me deu 2 meses de licença-médica. Minha chefe não me apoiou e ainda falou que discordava do “exagero da médica”, chegamos a discutir por bate-papo, fora da empresa, e ela deixou bem claro que acatava a decisão da justiça – assim, se a perícia do INSS fosse contra, eu perderia 2 meses de salário ou quanto tempo mais fosse necessário o afastamento. Antes disso, o bebê se foi. Não recebi uma visita, um telefonema de ninguém da empresa – aliás, recebi sim, pedindo que mandasse o atestado médico no prazo.

Após a curetagem, me colocaram na ala da maternidade e eu tive que aguentar os choros de bebês em redor e a cara de cada funcionária que entrava em meu quarto (primeiro um sorrisão e quando viam o berço vazio, baixavam o olhar). Eu realmente precisava passar por isso!? A obstetra, que obviamente não foi a da primeira gestação, chegou “para me dar alta” numa pressa tão grande que parecia nem estar ali, me entregou os atestados médicos com alguma orientação técnica e disse que eu estava “liberada”. Para mim, eu estava acabada, isso sim. Fui até a porta do hospital numa cadeira de rodas, levantei e saí sem meu bebê nos braços e com o útero vazio. O útero era então meu corpo inteiro. Eu estava oca.

Marina tem 3 anos e minha família é a felicidade da minha vida. Somente quando tomei contato com as discussões do blog PARTO DO PRINCÍPIO.

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