quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Livro: As cidades invisíveis, de Italo Calvino

"Quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido." Marco Polo

Alguns livros, assim como alguns filmes ou música ou outra expressão artística, tem a capacidade de mergulhar em mim através de um sentido invisível (sexto, sétimo, oitavo...) e me deixarem feliz sem entender nada muito bem - nem ao lido nem ao sentido.

As Cidades Invisíveis é um dos poucos livros que despertou em mim a vontade de encontrar seu escritor debaixo de um caramanchão em seu próprio jardim e ter a ousadia - impossível a uma tímida como eu - de perguntar tudo sobre este livro: sobre sua concepção, como foi feita a escolha dos nomes femininos das cidades, por que utilizar Kublai Khan e Marco Polo para falar dessas cidades... Nenhuma dessas perguntas, porém, nenhuma mesmo, serviria para aumentar minha compreensão, seria apenas um meio de continuá-lo, segui-lo, fazer parte dele e das cidades com nomes femininos.

Sem dispor de muito tempo para leitura, por causa das múltiplas e criativas intervenções de Marina ("Mãe, o filme do Bambi está alto? Atrapalha?" "Mãe, você está bem aí sozinha ou quer mesmo ver a Hello Kitty comigo?" "Mãe, você não quer fazer um bolo?"...) não consigo recorrer a dicionário e senti falta dele aqui, perdi algumas imagens, paisagens que iam se construindo à minha frente e de repente eu completava com algo que achava caber ali, já que desconhecia a palavra usada no livro. Por outro lado, como Khan e Polo não falavam a mesma língua, o imperador fazia o mesmo que eu, criando suas cidades imaginadas a partir dos relatos do viajante veneziano.

Tem-se a impressão de ser um romance fantástico, mas a experiência que tive com esse livro foi tão interessante que não me permite aceitar essa classificação. Algumas cidades às vezes parecem mesmo cidades, noutras me apresentam pessoas que já conheço, outras sou eu mesma. E ver-me ali na pena dum desconhecido cubano/italiano obriga-me a pensar que alguém no mundo me conhece bem, ou que não sou tão única assim, ou que Deus deu à arte o poder de traduções poderosas.

Palmas para o tradutor, Diogo Mainardi, que vai tirar de mim um texto sobre os tradutores :-)

Pesquisei alguns relatos e impressões sobre o livro e escolhi o que achei o mais interessante: http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/a/as_cidades_invisiveis

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