terça-feira, 31 de março de 2015

Mais uma Páscoa de borboleta


Minhas sobrinhas-mais-que-amadas nasceram nas Páscoa.
Na Páscoa de 2008 eu soube que estava grávida.
Meu segundo bebê teria nascido na Páscoa do ano seguinte.
Nesta semana, ontem, assinei a documentação que fecha o ciclo do casamento com o pai de Marina.
Sim, os céus falam!
Sim, a passagem de casulo a borboleta não deve ser fácil. E, sendo Páscoa símbolo ou sinônimo ou representação (como queiram) de Renovação é sempre essa imagem a que me vem à mente, a de uma borboleta. Asas pesam, logo no início. A gente não sabe bem para quê servem. É um lapso de tempo, mas causa uma dor lancinante.

Há mais de um ano, quando a separação se deu, um querido me disse que o divórcio era como um câncer. Achei aquilo tão forte. Principalmente para ele, que nunca havia passado pela experiência da separação - no entanto vira o sofrimento do pai com a doença. Hoje lembrei de suas palavras e do filme A Teoria de Tudo, especificamente quando o tempo volta e toda a vida de Stephen é passada rapidamente.
Diante da tapioca que acabava de ficar pronta minha vida de casada passou diante de mim. Não apenas a que eu tive, mas a que lutei para viver. Casamento não é luta. Vida não é luta. Embora tudo canse. E para se refazer, é suficiente ... descansar!

Ontem, quando estávamos lá diante a pessoa que preenchia o que havia de ser preenchido, já que tudo o mais do lado de cá da mesa já se encontrava repleto de outras coisas, nada disso me veio à mente. Quando ouvi a pergunta 
"Vocês tem filhos?"
"Sim, temos! Marina, tá aqui o registro de nascimento" A pergunta foi um sol diante de mim, foi um tambor batendo dentro dos meus tímpanos, senti (de verdade) uma cachoeira jorrando dentro meu peito e minha respiração mudou e tudo ali fazia sentido a partir de então...Putz! Valeu a pena, caceta! Certamente poderei ver outras razões, mas naquele - e neste - momento, milhares de milhões de vezes eu passaria por todas as dores que considero desnecessário ter vivenciado se essa fosse a condição para ser mãe dessa menina. O mesmo sobre o bebê que voltou de onde veio quando fez três meses de vida dentro de mim. Não recolho uma lágrima, uma Páscoa depois dele é vivida como antes, não desejo que esteja aqui fisicamente porque realmente creio que esteve pelo tempo que precisamos que estivesse.
Fernando Pessoa ressoa em mim e apesar de parecer (ou ser) mega-power-depressivo, não vejo razão para negar o sentimento e menos ainda a poesia:

Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
(...)
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…
(...)

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