sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Pensando de trás para a frente

Eu só estava sendo enfática. E ele é mesmo leonino

Outro dia me peguei explicando a um companheiro de projeto minha resistência em reutilizar objetos de plástico. Pensando na dificuldade em me fazer entender, resolvi escrever o que penso a esse respeito (vai que sou mais competente aqui...).

Como diria Renato Russo "Há muito tempo atrás (sic), numa galáxia muito, muito distante" entrei em contato com Educação Ambiental numa pós-graduação que cursava. Foi quando conheci o Instituto Akatu, melhor referência sobre meio ambiente à época e recentemente aprendi a calcular minha Pegada Ecológica. Nem de longe posso ser chamada de ambientalista, mas procuro conhecer as consequências das minhas atitudes e busco não piorar o que já está ruim no mundo.

Imagem daqui

Com relação ao consumo modifiquei alguns hábitos após ler em algum lugar que estamos habituados a pensar em nossa necessidade, depois no uso da coisa, em sequência no descarte do que foi adquirido. O pensamento ideal seria de trás para a frente, ou seja, a partir do descarte. Ao invés de pensar: "Eu preciso disso" devemos pensar "Como isso será descartado?". E ao invés de determinar que precisa de algo começar a refletir se precisa de tal coisa. Essa questão do consumo é bastante interessante sob vários aspectos e quando a mudei a forma de pensar encontrei várias des-necessidades em minha vida e em lugares que frequento. Quando comprei o apartamento onde moro os armários eram embutidos e o roupeiro do quarto de minha filha é imenso! Percebi que o meu ficava juntando tralha e então arranquei-o da parede. Quando meu então marido chegou e viu a bagunça perguntou logo onde iríamos guardar o que estava ali. As roupas já estavam no outro e desse, pasmamos, tudo foi descartado. Percebi, naquele momento, que quanto mais armários, prateleiras, mesinhas, racks, mais espaço tenho para encontrar alguma coisa que eu preciso colocar ali. O novo pensamento consumidor seria:
1. Como isso será descartado? Pode ser reciclado? Sei onde e como descartá-lo? É biodegradável? Tenho a opção de substituir por algo que não prejudique o meio ambiente, se for o caso?
2. Tenho onde usá-lo/guardá-lo ou precisarei comprar outro objeto para tal?
3. Preciso disso?
Garantia 1: muuuuuita economia, para começo de conversa.


É inegável que a invenção do plástico trouxe vários benefícios à sociedade. O exemplo mais próximo de seu uso para a maioria das pessoas tem a ver com os produtos de higiene, limpeza, depósitos para guardar alimentos - que mesmo sabendo fazerem mal à saúde ainda são utilizados. Também é de amplo conhecimento que esse material dura em torno de 500 anos para se decompor e tem trazido problema gigantescos à Natureza e ao meio ambiente Natureza e meio ambiente não são a mesma coisa. A questão é simples: as indústrias ou cientistas deveriam pesquisar outros materialis que tragam os benefícios do plástico e sejam biodegradáveis. Vou poupar vocês das razões $$$$ para que pesquisas nesse sentido não ocorram, ok?

Árvore garrafa PET e enfeites em PET e latas
Aproveitando a proximidade do Natal vou usar um exemplo de árvore que já decorou minha cidade. Meu coração chegava a doer quando via aquela belezura sendo fotografa e servindo de monumento. E foi neste ponto em que eu e o colega discordamos. Na concepção dele, se o produto já existe e vai passar 500 anos por aí, então que pelo menos sirva para algo. É o pensamento vigente, é claro, é a partir dele que se baseiam os 5 Ss: Repensar + Reduzir + Reutilizar + Reciclar + Recusar.


O que eu penso é que o plástico não deveria existir. Também penso que quando dou uma outra utilidade a um material que não deveria existir apresento a falsa conclusão de que ele “pode ser bom para”. Só que: qual será o destino da árvore de Natal após ser desmontada? Em quanto tempo a vida desse objeto no planeta diminuiu por eu ter feito sua reutilização? Quantas garrafas de refrigerante deixaram de ser produzidas, compradas e descartadas? Então, se não quero mais que esse material exista também não quero dar a falsa impressão de que pode vir algo bom dele, pois esse “algo bom” da reutilização não elimina a realidade de que o plástico está envenenando nossos alimentos, solo, águas e atmosfera. Da fabricação ao descarte ele é nocivo. Assim, assumo a postura de não participar nesse diminuto circo de horrores (se comparado a fatos maiores), não transformar garrafa PET em carrinho, tubo de sabão líquido em floreira, jogo-americano com tampa de garrafas plásticas. Evito comprar plástico e não estimulo reutilização.


Volto à pergunta do rapaz
- Qual o problema de usar se o material já existe?
- Existe, mas não sou eu quem vai fingir que ele pode ser bom. Porque o que deve acontecer é ser substituído por outras opções.


Ações de grupos e movimentos organizados têm feito pressão em relação ao uso indiscriminado dos vários tipos de plástico e vê-se o efeito nas prateleiras de supermercados, que apresentam cada vez mais sachês de produtos alimentícios e de limpeza/higiene - também são embalagens plásticas, mas dizem que se decompõe mais rápido...não sei se é verdade ou uma troca de seis por meia dúzia. Ações individuais, como preferir comprar produtos embalados em madeira ou papel, usar eco bag já no carrinho de supermercado e colocar hortifrúti ali e dispensar as sacolinhas, comprar sabão/sabonete em barra e evitar a embalagem plástica, escolher bolsas em tecido às de nylon, usar bucha vegetal ao invés de esponja, garrafas de vidro para suco e água, etc. São exemplos de ações que não requer a participação efetiva em algum movimento, mas ao mesmo tempo insere a pessoa num grupo imenso que precisa crescer urgentemente. Precisa crescer, muito mais do que precisa de inutilidades para o mundo.

Imagem daqui

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