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Mi casa, su casa (imagem daqui) |
Uma mulher de seus 30 anos me contou sobre um aborto que desejava
realizar. Dentre os tantos motivos estava o de que uma gravidez iria “modificar
seu corpo”, o que ela não queria de forma alguma. Não se trata de alguém que
necessite que o corpo esteja especificamente de algum formato para que possa
trabalhar, por exemplo.
E a minha questão é esse corpo. Não é uma questão de agora, é
de dezenas de anos.
Que corpo é esse, para que serve, a quem serve, ele deve ter serventia, pessoas devem ter serventia? O corpo feminino,
que durante tanto tempo pertenceu a diferentes donos, quando parece retomar a
si e poder descansar...continua “servindo”. À vaidade? Ao mercado de trabalho?
Aos homens? Aos coletivos de mulheres? Aos olhares alheios?
E o corpo da criança em formação?
(Durante toda a conversa a
mulher falava embrião e eu me referia a seu filho como bebê ou criança.)
A criança fez um longo percurso na história da humanidade
para ser reconhecida como sendo diferente do adulto e digno de direitos
especiais. Esse percurso, inclusive, continua em lenta construção. Se antes sequer
sabíamos que o sexo levava à gravidez, agora chamamos o bebê de embrião e
conseguimos aliviar um pouco o peso de enxergar ali um CORPO. Interromper uma
gravidez sempre levará a um corpo que deixará de existir. Mesmo que se chame de embrião, feto, problema...
E a minha dúvida cresce ainda mais! Que tão pouco valor esse
corpo tem – ainda sem braços e cérebro – que não merece um banho de mar,
cócegas na barriga, dormir barriga-com-barriga se tiver cólicas, se reconhecer
no pai e na mãe, olhar-se no espelho, descobrir seus dedinhos? E quando coloco o contraponto das estrias ou celulite ou
barriga flácida, então a mesma pergunta vale para a mãe: que tão pouco valor
tem essa pessoa, que precisa resguardar o que será (caso não morra antes)
levado com a velhice?
A impressão que tive é de que a infância, por mais que
façamos sua defesa, está muito muito muito desprotegida.
PS.: Não fiz o julgamento moral dessa pessoa, estou falando
das reflexões que ecoam dentro de mim e que surgiram após essa conversa.
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