segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Depressão natalina



Apesar de sofrer de Transtorno Bipolar e ter sido tratada erradamente como depressiva durante 15 anos nunca estive deprimida POR CAUSA do Natal, mas conheci várias pessoas que diziam se sentir "pra baixo" nessa época e alguns, mais próximos, pediam que nem desejasse felicitações, que só isso já era suficiente para causar mal-estar.
E qual é a reação quase instantânea da família? Querer que a pessoa triste esteja nos festejos, se arrume, fale com todo mundo, coma as maravilhas da Ceia. Beodeos /o\ isso é um circo de horrores para quem está deprimido! É claro que todos querem que essa pessoa melhore e acreditam que a festa o ajude, mas sendo ou não Natal, essa movimentação toda desgasta muito uma pessoa com depressão. Para alguém saudável a energia desprendida é rapidamente reposta pelo corpo, para um deprimido o desgaste é enorme e não há tempo para reposição, pois tudo acontece sem "tempo emocional" para permitir a reposição da energia. Dependendo do grau de depressão o ato de estar deitado, aconchegado, se recuperando de toda a confusão mental que a doença causa pode ser muito mais proveitoso do que ir a uma festa e ter que se recuperar depois. Talvez dois dias de recolhimento representem uma melhora ínfima para quem está de fora, mas já causa um ganho gigante para quem está no olho do furacão. PODE SER, sempre pode ser...porque as pessoas são diferentes e obviamente todas as experiências vividas por ela são diferentes.



O nome do Transtorno de que sofro é Transtorno Afetivo BIPOLAR (TAB), o que para mim é um erro crasso, pois nunca estive apenas em um polo e outro. há nuances entre uma fase e depressão e uma de euforia - termo do qual discordo porque não sinto euforia alguma, o que existe é uma exacerbação de energia.

 E o que fazer quando seu parente quer ficar ficar em casa sozinho enquanto todos irão à festa? É aí onde eu lembro de Bauman e sua ideia de Amor Líquido e de uma mulher que conheci dias atrás.

Ela é mãe de uma criança com necessidades especiais, que estava em seu colo durante nossa conversa. A criança jogou seu brinquedo de borracha uma 839 vezes e a mãe se abaixava e pegava e  entregava e ele jogava de novo sem parar durante uns 15 minutos. Eu não sabia o que fazer, minha vontade era colocar a criança para dormir e abraçar aquela mulher até não poder mais, mas ao mesmo tempo me sentia constrangida em disponibilizar alguma ajuda porque não saberia mesmo o que fazer. Falávamos sobre cinema, paixão em comum, e ela fazia essa manobra toda sem perder o raciocínio. Até que não aguentei e ofereci ajuda, ao que ela respondeu, com o maior sorriso:
- Eu tô acostumada, você não ia aguentar cinco minutos! 
 Imagem daqui
Imagem daqui
Rimos muito e na realidade eu não aguentaria nem dois! Mas por que ela consegue? Por ser mãe? Por ser triatleta? Nada disso. Por amar o amor que ele precisa receber. Por amar um amor especial. E toda pessoa com alguma doença crítica precisa de um amor assim.

O que Bauman diz sobre Amor Líquido, o tipo de amor cultivado atualmente, é que existe Amor enquanto não houver "muito trabalho", enquanto o outro for de fácil convivência...estou simplificando, mas é o que serve para este texto. E o caso é que esse tipo de amor nunca será suficiente se você ama alguém doente, você precisará um pensar um pouco para além do sentir e sei que nessa estrada vocês podem crescer muito!



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