domingo, 30 de janeiro de 2011

"Bebê, não. Eu sou Maína"

Não é que ela tenha corrigido o f
ato de eu chamá-la por bebê por não se achar mais um bebê, mas acho que tem se percebido uma pessoa, dona de nome e - certamente - talvez reconheça em si algumas características. Quando falamos a seu respeito sem citar-lhe o nome ela explica "Eu" como se o interlocutor não pudesse não saber de quem estamos falando...
Essa possibilidade de ver uma pessoa crescendo, se formando, se construindo (ou sendo construída) é a maior bênção da maternidade. Por diversas vezes relembro passagens de minha infância, como quando minha avó deu meu vestido predileto (eu tinha 4 anos - e um vestido predileto rs), ou quando lembrei que não entendia quando calçava as sandálisa e minha mãe dizia "É a outra!" e eu não via nenhuma diferença! Coube ao Paulo a orientação da Marina neste quesito porque eu simplesmente não consigo dizer a tal frase sem lembrar da angústia que me tomava naquelas horas de trocar direita-por-esquerda-e-vice-versa. Ah, sim, Marina quase nunca faz confusão com os pares dos calçados. Outro dia desses, enquanto ela me perseguia pela casa e eu estava escondida, fui transportada para o passado bem distante, de quando eu tinha a sua idade.
Nutri, também na vida adulta, uma paixão mortal pela minha mãe. Um olhar dela podia derrotar meus planos ou me fazer escalar o Everest. Era de uma dependência tão grande que só resolvi mesmo em salas de psicólogas muito bem capacitadas. Acontece que bem nessa fase em que Marina está meu pai morreu. Seis meses antes meu meio-irmão, filho dele, a quem minha mãe ajudava criar, morreu também. Alguns meses depois, nascia minha irmã com um grave problema de saúde. Dona Zey, com todas as depressões do mundo, não tinha mesmo tempo para mim e coube a um tio 10 anos mais velho cuidar de mim no que dava.
Então, vendo minha nêga assim, tão dependente de mim, de meu olhar, consentimento, aprovação, imaginei como seria se eu simplesmente me ausentasse. Vi como seria doloroso! Sem contar que eu havia perdido o pai, por quem era terrívelmente apaixonada, antes mesmo da fase de Electra. Viemos para Maceió porque parei de me alimentar quando meu pai morreu, e estava quase perdida quando um pediatra disse à minha mãe "Tire ela de São Paulo, vá embora, senão a senhora perde sua filha, ela vai morrer de saudades".
Saímos de lá, muita água rolou debaixo dessa ponte, e cá estamos nós. Ainda tenho dúvida sobre ele: ficou lá? Veio conosco? Às vezes sinto uma presença forte que me acolhe nos momentos mais difíceis e penso se não seria ele.
Antes de ontem Paulo deixou Marina com uma cliente, enquanto buscava o material no carro. Quando voltou ela perguntou sobre o avô da Marina, pois ela estava apontando a parede e dizendo "O Vovô...ali, o vovô" Como quase não tem contato com o avô paterno...quem sabe, né?
O que sei é que a brincadeira de esconder vendo minha filha me seguindo valeu uns 15 anos de terapia para eu entender uma dependência que não existe mais, mas me acompanhou por muuuuito tempo.

Um comentário:

Paulo Caldas disse...

interessante...pequeno, na casa de minha avó materna, quando eu dizia alguma coisa ou me posicionava com respeito a algum "assunto adulto", minha avó me dizia: 'mas parece gente...'. eu ficava danado, pois eu achava que era uma pessoa de verdade. o que me consolava é que ela sempre falava isso rindo, causando-me a impressão de admiração pelo que eu tinha falado. e tudo terminava em graça...