Diogo Mainardi e Tito, seu filho com paralisia cerebral por erro no parto |
Nunca
tive a menor vontade de comprar um livro de Diogo Mainardi. Diogo na Veja eu
adorava, era só o que eu lia naquela revista...às vezes ia às Páginas Amarelas
também, mas a coluna dele era meu ponto.
Dia
desses mexendo num tablet
recém-comprado resolvi pesquisar um e-book e encontrei o primeiro capítulo
grátis do livro A Queda - As memórias de um pai em 424 passos. Eu sabia que ele
tinha um filho com paralisia cerebral, mas não fazia a menor ideia de como aquele
homem tão ácido trataria do tema, o que me fez abrir rapidinho o arquivo e
comprar o livro assim a parte grátis acabou-se.
Durante
um dia meu marido e eu lemos o livro. Ele lia em voz alta e às vezes parávamos
para algum comentário sobre as construções de imagens fabulosas que Diogo ia
construindo.
Você
consegue contar o filme ET para um adolescente de 17 anos e fazê-lo ficar
empolgado tanto quanto você!? Pois é! Eu jamais conseguiria explicar quão
emocionante é este livro, só conseguia pensar, durante a leitura, no Mozart,
que (dizia) recebia as peças prontas dentro de sua mente e por isso as escrevia
sem fazer rascunho.
A
Queda parece ter sido escrita numa sentada e sem rascunho. Não conto as vezes
em que senti imensa vontade de chorar, mas nunca de pena do pai ou do filho ou
da mãe, mas de comoção pela história e pela sensibilidade de Diogo. A Queda
parece uma teia, uma renda bem feita, uma vida em exposição, uma idosa nua na
calçada numa noite de neve. É tudo isso, e muito mais a quantidade de sentimentos
que desabrocham dentro da gente depois que lemos o livro. E não é pela
história, pois dela eu falo em 5 minutos e pronto, não apenas pelo relato, mas
por tudo isso e mais a emoção que literatura nenhuma consegue fazer melhor do
que um pai-ótimo-escritor.
Nota
1: meu 1º e-book
Nota
2: aos 40 anos descobri que ADOOOORO emprestar livros, agora sei que não serei
dessas que migrará definitivamente para os e-books
Abaixo,
algumas resenhas sobre o livro. Aconselho a da Bravo, fantástica! E da Veja,
retirei a fala a seguir:
“O nascimento de Tito me fez deixar os
romances de lado, porque mudou o narrador. Em meus romances, eu era o narrador
onisciente, que comandava o destino de um bando de personagens idiotas. Depois
de Tito, eu me tornei o personagem idiota, e meu destino passou a ser narrado
por um menininho de pernas tortas que nem sabia falar. Morreu a minha soberba
autoral e, sem ela, era impensável continuar a escrever romances. Dito de outra
maneira: eu sempre imaginei que saberia manter um razoável controle sobre os
fatos de minha vida. Tito me mostrou, porém, que eu nunca controlei porcaria
nenhuma, e que a única possibilidade de livre-arbítrio ao meu alcance estava na
leitura dos fatos, e não nos fatos em si”.
Um comentário:
um dos livros mais emocionantes que ja li. imagens sensíveis que muitas vezes me fizeram parar para respirar e engolir um quase soluço. minha boca tremia e travava vez em quando pela grandeza e profundidade de imagens tão bem colocadas e urdidas, para o autor expressar sua trajetória ao encontro de si mesmo através de um incidente que transformou sua vida. Diogo, para mim, que já era grande, tornou-se um gigante... era pra mim, também, o primeiro texto a ser lido quando abria uma veja...
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