quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Uma mãe que chora – um desconhecido que cai

Diogo Mainardi e Tito, seu filho com paralisia cerebral por erro no parto



Nunca tive a menor vontade de comprar um livro de Diogo Mainardi. Diogo na Veja eu adorava, era só o que eu lia naquela revista...às vezes ia às Páginas Amarelas também, mas a coluna dele era meu ponto.
Dia desses mexendo num tablet recém-comprado resolvi pesquisar um e-book e encontrei o primeiro capítulo grátis do livro A Queda - As memórias de um pai em 424 passos. Eu sabia que ele tinha um filho com paralisia cerebral, mas não fazia a menor ideia de como aquele homem tão ácido trataria do tema, o que me fez abrir rapidinho o arquivo e comprar o livro assim a parte grátis acabou-se.
Durante um dia meu marido e eu lemos o livro. Ele lia em voz alta e às vezes parávamos para algum comentário sobre as construções de imagens fabulosas que Diogo ia construindo.
Você consegue contar o filme ET para um adolescente de 17 anos e fazê-lo ficar empolgado tanto quanto você!? Pois é! Eu jamais conseguiria explicar quão emocionante é este livro, só conseguia pensar, durante a leitura, no Mozart, que (dizia) recebia as peças prontas dentro de sua mente e por isso as escrevia sem fazer rascunho.
A Queda parece ter sido escrita numa sentada e sem rascunho. Não conto as vezes em que senti imensa vontade de chorar, mas nunca de pena do pai ou do filho ou da mãe, mas de comoção pela história e pela sensibilidade de Diogo. A Queda parece uma teia, uma renda bem feita, uma vida em exposição, uma idosa nua na calçada numa noite de neve. É tudo isso, e muito mais a quantidade de sentimentos que desabrocham dentro da gente depois que lemos o livro. E não é pela história, pois dela eu falo em 5 minutos e pronto, não apenas pelo relato, mas por tudo isso e mais a emoção que literatura nenhuma consegue fazer melhor do que um pai-ótimo-escritor.

Nota 1: meu 1º e-book
Nota 2: aos 40 anos descobri que ADOOOORO emprestar livros, agora sei que não serei dessas que migrará definitivamente para os e-books

Abaixo, algumas resenhas sobre o livro. Aconselho a da Bravo, fantástica! E da Veja, retirei a fala a seguir:
 “O nascimento de Tito me fez deixar os romances de lado, porque mudou o narrador. Em meus romances, eu era o narrador onisciente, que comandava o destino de um bando de personagens idiotas. Depois de Tito, eu me tornei o personagem idiota, e meu destino passou a ser narrado por um menininho de pernas tortas que nem sabia falar. Morreu a minha soberba autoral e, sem ela, era impensável continuar a escrever romances. Dito de outra maneira: eu sempre imaginei que saberia manter um razoável controle sobre os fatos de minha vida. Tito me mostrou, porém, que eu nunca controlei porcaria nenhuma, e que a única possibilidade de livre-arbítrio ao meu alcance estava na leitura dos fatos, e não nos fatos em si”.

Um comentário:

Paulo Caldas disse...

um dos livros mais emocionantes que ja li. imagens sensíveis que muitas vezes me fizeram parar para respirar e engolir um quase soluço. minha boca tremia e travava vez em quando pela grandeza e profundidade de imagens tão bem colocadas e urdidas, para o autor expressar sua trajetória ao encontro de si mesmo através de um incidente que transformou sua vida. Diogo, para mim, que já era grande, tornou-se um gigante... era pra mim, também, o primeiro texto a ser lido quando abria uma veja...