Imagem daqui |
Já falei do Seu Carlito aqui. Ele continua, como vem fazendo há anos, limpando a lixeira dos 16 apartamentos do nosso prédios e todos os dias vem recolher os recicláveis que são rentáveis para ele: alumínio e plástico.
Há alguns anos, ainda namorando (own que lindo), meu marido disse que eu era muito generosa. Achei o elogio exagero de apaixonado, embora tenha ficado lisonjeada. Resolvi fazer uma pesquisa entre amig@s, colegas e familiares e foram unânimes, então aceitei o que acredito ser herança paterna. Outro dia desses Paulo me repetiu a observação, então acho que ao menos nisso não mudei.
Na fan page do MILC (https://www.facebook.com/InfanciaLivredeConsumismo) rolou uma discussão após uma postagem sobre o Mauricio de Sousa. Parece que @s leitor@s não entenderam bem a OPINIÃO do Movimento e criou-se um alvoroço. Está lá, dentre os comentários a ofensa de que o grupo estaria sendo "politicamente correto demais"*.
Tenho escutado muita gente xingando as pessoas que querem fazer o certo de politicamente corretas ou politicamente correta demais. Eu ia falar uma porção de coisas, mas encontrei a imagem lá de cima que diz tudo. É o velho lance "uma imagem vale mais que mil palavras".
As pessoas que fazem o MILC trabalham dentro e fora de casa, estudam, tem família, doença, problemas, morte da família, não são ricas e bancam $ o movimento. Elas já pensam daquele jeito e é assim que criam sua descendência. Só que para elas isso é pouco. Querem o bem para um leque maior de pessoas. Então...tchamram...se desdobram, doam horas de sono e descanso para fazer a coisa acontecer, pensam sobre o assunto, pesquisam, debatem, escrevem (para mim, uma das partes mais difíceis do processo)...simplesmente porque querem que o filho do njhdqufnfh que mora na mfclajrwur tenha uma vida digna.
Além da iniciativa de separar os recicláveis tenho outras atitudes normais, generosas, cidadãs, que servem de chacota, e dão-me a pecha de louca ou xiita. Coisas simples mesmo, como organizar o chá de bebê da adolescente-aprendiz que mora na periferia mais violenta da cidade e será mãe solteira ou recusar sacolas plásticas quando o produto adquirido cabe na minha bolsa ou levar para a UFAL, fono e para a psicoterapia meu próprio copo - evitando o uso dos descartáveis.
Além da iniciativa de separar os recicláveis tenho outras atitudes normais, generosas, cidadãs, que servem de chacota, e dão-me a pecha de louca ou xiita. Coisas simples mesmo, como organizar o chá de bebê da adolescente-aprendiz que mora na periferia mais violenta da cidade e será mãe solteira ou recusar sacolas plásticas quando o produto adquirido cabe na minha bolsa ou levar para a UFAL, fono e para a psicoterapia meu próprio copo - evitando o uso dos descartáveis.
Será que quero salvar o mundo com a caixa de recicláveis que instalei aqui no nosso andar ? |
Alguém aqui do prédio vive roubando o balde que seu Carlito usa para lavar a lixeira. Seu Carlito se aborrece com isso. Para ele, é o maior problema que enfrenta aqui. Trabalha sem luvas, com uma vassoura pra lá de velha e cantarola o tempo todo. Seu Carlito adora minha Marina.
Mesmo que eu não estivesse nem aí para o futuro do planeta, eu conheço Seu Carlito. Seu Carlito não conhece Manuel Bandeira nem o poema abaixo. Mas eu conheço.
O BICHO
Manuel Bandeira
Manuel Bandeira
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.Rio, 27 de dezembro de 1947.
* Vale a pena ver esta definição http://pt.wikipedia.org/wiki/Politicamente_correto
3 comentários:
Estou sem palavras. Um beijo no seu coração.
Estou sem palavras. Um beijo no seu coração.
Patrícia, muito bom seu texto. Estranho esse mundo em que vivemos. Quem tenta fazê-lo melhor é discriminado e ridicularizado. Mas não desistimos e é muito bom encontrar outros malucos para tecer a rede do bem. Bjos!
Claudia Visoni
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