domingo, 29 de maio de 2016

Morte virtual, ferida real



Hoje eu fui (virtualmente) bloqueada. Houve uma discussão e a pessoa disse "Vou te bloquear", penso que ainda respondi "Não faça isso, é absolutamente deselegante".

A palavra elegante é tão elegante, mas tão elegante, que até seu oposto não parece algo negativo ou ruim. 
E fui então, deselegantemente, bloqueada.

Para quem nunca viveu isso: a sensação é de morte. Pior, de inexistência. Pior! De estar no purgatório ou no mármore do inferno ou no umbral ou em algum lugar onde você fala, chora, berra...mas a outra não te ouve. Ahá! É ainda pior! Porque ela não quer te ouvir. Rolou uma discussão com ofensas mútuas e daí, para fazer as pazes, você pode querer mandar uma foto ajoelhada com a frase "Perdoe-me por tudo", mas ela não quer te perdoar, não quer saber se está chorando ou sofrendo ou odiando-a.

Por não ser católica, não terei missa de 7º dia, então a despedida foi ali mesmo no "Vou te bloquear". É claro que estou lembrando do livro Amor Líquido, de Bauman, mas uma coisa é ler e outra é ter a lança transpassando minhas vísceras. Além do mais, o MEU amor, aquele que eu oferto, não é líquido.

Ser bloqueada é ser negada, mas também é como morrer depois de conseguir o emprego dos sonhos e estando grávida de 7 meses; é como estar feliz porque minha mãe, finalmente, foi conhecer Paris e de repente recebo um telefonema que me presta condolências em três idiomas, exceto o meu; é como ser amiga da dona da festa e ela não te dirigir o olhar e sequer abrir o presente que dei. E ser bloqueada por uma amiga é saber que ela está sofrendo, que ela sabe que você também está e não poder dizer que a ama...afinal, isso não faz diferença. Mortos não falam com vivos. Mortos não importam mais. Aliás, importam, mortos importam, os bloqueados é que não.



Ah, Bauman, meu querido, que difícil viver em plena sociedade líquida vivendo amores líquidos e sentindo dores de carvalho! Mas sabe, Bauman, o homem se adapta e tem umas antenas que os faz encontrar seus iguais. 

Já sei como é ter a existência-sentimento-importância negados. Na verdade a infância teria muito a ensinar sobre isso, porém é uma fase em que sentimos mais do que aprendemos, então vou contar minha lição a partir de meu bloqueio. Vou aprender com ele alguma coisa além de usar palavras de maior efeito do que "deselegante".

Bloqueados choram? Depende dele e de quem bloqueou. Eu chorei. Pela sensação de aprisionamento, de impotência, de querer falar e não poder. As lágrimas secaram, a dor diminuiu, a tristeza vai passar, nem tenho nada a falar e já já vou lembrar do ditado mais antigo e certo deste mundo: "Cada um só dá o que tem." Ela não quis o que tenho e tem todo o direito a isso. Inclusive de ser deselegante. O injusto é que o bloqueado é obrigado a receber.

2 comentários:

Unknown disse...

Poxa Pat, vc descreveu muito bem o q senti das 2 vezes em q levei um block!Sensação horrorosa de desprezo, impotência, inutilidade...putz! Parabéns por captar e repassar c tamanha sutileza e profundidade fatos do cotidiano que realmente nos afetam :) Beijossssssssssssssss

Patrícia Santos Gomes disse...

Oi, Nanda, obrigada pela visita _/\_
Fico muito feliz que goste do blog e me senti lisonjeada, viu?
Bessos,
Paty.