sábado, 21 de maio de 2011

O Parto é meu...é meu?

Tive a curiosidade de saber o significado da palavra Parto no dicionário e eis que uma delas é ESFORÇO DESMEDIDO. Putz, isso põe medo em qualquer cristão. Some-se a isso a tradição de se considerar que parto normal é coisa de mulher pobre, que precisa recorrer ao SUS e, portanto, não tem outra saída a não ser ESFORÇAR-SE DESMEDIDAMENTE. Agora, barra mesmo, coisa sería e atualíssima é a relação que precisamos estabelecer com os médicos.
Li o depoimento de Ingrid Lotfi e fiquei comovida. Principalmente porque o caso dela é praticamente uma regra. Ao final do depoimento ela faz o mea culpa dizendo que teve medo e por isso não se informou melhor, o que acabou fazendo com que seu bebê nascesse de parto cesárea. Discordo (se é que posso). Quando estamos grávidas tudo o que queremos é o melhor para o nosso filho e o médico É a pessoa responsável por nossa vida e do nosso bebê. Nos limites da ciência, obviamente. Quando grávidas, estamos sensíveis, fragilizadas, temos muito medo sim, de tudo: do que comemos, do que tomamos, de gripe, de gato, do ritmo de nossos passos, de não atravessar na faixa, do cinto de segurança e de não usar o cinto de segurança. O médico tem obrigação de ser honesto, verdadeiro, decente. E talvez fosse assim antes. Talvez tenha sido assim algum dia, mas não mais.
Marina nasceu aos 8 meses e por um milagre não teve consequências piores. Fiz a ultra na quinta-feira, dia 30/10/2008 e o médico, Dr Augusto Acioly disse que o parto deveria ser feito às pressas, pois estava quase sem líquido, o que ele mostrou na tela. Ligou para a minha obstetra, que não aceitou bem seus conselhos e me mandou ir trabalhar normalmente no dia seguinte (coisa que não fiz) e à tarde ir procurá-la. Quando Dr Augusto terminou a ligação nos disse "Os médicos não gostam de mim. Sabe por quê? Meu compromisso é com o bebê que está na sua barriga e com a senhora, jamais com eles. Vá fazer esse parto!" No dia seguinte foi o parto, cesária, que inclusive não sujou nada porque quase não havia líquido amniótico na minha barriga, mesmo sem eu ter tido qualquer perda nos dias anteriores. Só posso crer que minha obstetra não fez o trabalho dela direito.
Não creio que me encher de conhecimento, coisa que procuro fazer, me dê a certeza de um parto seguro porque preciso de uma rede de pessoas a me ajudar. Se eu quiser parir em casa e houver uma complicação, seguirei para o hospital e então precisarei de pessoas preparadas e disponíveis para me ajudar. Já ouvi histórias de médicos que DEIXAM a paciente sofrendo quando sabem que tentou fazer o parto em casa e não conseguiu...denunciar? Como, se há a conivência de enferméiros, técnicos, funcionários de hospitais e planos de saúde?
Não, o caso não é simples e nem particular. O parto é meu, o filho é meu, o corpo é meu, mas preciso que tudo isso seja respeitado. E como quem precisa sou, sou a pessoa ideal para ir à luta. É por isso que NÃO PODEMOS deixar impunes casos de erros médicos, por "mínimos" que sejam. Precisamos estar bem informadas e inseridas em uma rede de apoio mútuo, ágil e coerente, que promova debates (o que significa ter nossas ideias julgadas e, eventualmente, rejeitadas) e esteja disposta a ir às ruas (literalmente ou não), mas principalmente que não se perca o foco: A MULHER.
Uma vez, numa ação pública em São Paulo, ouvi a seguinte frase de um homem "Toda luta feminina melhora o mundo. Não conheço nenhum outro movimento que seja de uma classe, mas traga benefícios a toda a humanidade"

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