sábado, 5 de novembro de 2011

Sobre como se restringe o mundo de uma criança

Brinquedo que dei a ela em abril para aprender as cores, já que o "de menina" são SEMPRE da mesma cor!

Postei um álbum sobre as brincadeiras de Marina e no dia seguinte a moça me chega em casa rejeitando tudo quanto é coisa azul que vê pelo mundo!
- Puquê azul é de minino
Tive vontade de dizer "Minha filha, pinto é de menino...o resto é escolha!" mas como ela não iria entender tenter ser uma lady
- Não, amor, as cores são de todo mundo
E lá está Marina escolhendo, na verdade separando rejeitando, excluindo, seus brinquedos azuis...sem dar a mínima bola para meus argumentos
- Marina, qual a cor do seu quarto? Azul, lembra?
Sua lógica é boa o suficiente para concluir "Se meu quarto é azul, então azul não é de menino". Pois a menina saiu da sala, foi até o quarto e voltou
- É vemelho também e vemelho é de minina
Quarto da Marina - nada cor-de-rosa

Eu já estava, internamente, amaldiçoando a professora e os coleguinhas da escola, e todas as lojas de brinquedos e à indústria do rosa e preparando uma postagem superdesaforada que nem caberia aqui, iria para o Abracabessa (meu campo nada-neutro), quando Paulo o monge interveio
- Marina, quem tá falando isso pra você, hein? A nossa cozinha é azul, o seu quarto é azul, não tem nada de cor de menino nem de menina e pronto! Olhou pra mim e completou - Tenho pedagogia não.
(Putz, o pai da menina é o melhor colorista que conheço e a menina fazendo esse tipo de acepção!)
Com Clarisse, na fantasia de bailarina que preparei par a festa de Dia das Crianças da escola
Ontem, no carro, me pediu para comprar colá (é o colant de bailarina) e outra sapatilha porque os dela são azuis e ela não gosta de azul "puquê azul é de minino, mamãeeee". Viemos da casa de minha mãe, eu e Paulo, conversando sobre isso:
- Imagina se fôssemos normais e enchêssemos essa menina de rosa e lilás! Fala minha
- Eu não me preocupo com isso não, ela tem a vida pela frente...Paulo o monge
- É, eu conheço um monte de lesadas de 30 anos que adoram rosa, vestem a filha de rosa do quarto à mochila escolar, e todas tiveram 3 anos.
- Mas ela vai escolher
- É ESSE O PONTO! Eu quero que ela escolha, mas o mundo não deixa! O mundo reduz as opções de cores, apresenta cores de meninos e de meninas - e é assim com tudo! Ela pode deixar de ser a Maureen Maggie porque atletismo é coisa de menino, deixar de ser a Marta porque futebol é coisa de menino, e aí!? Eu quero que ela tenha todas as escolhas possíveis e aos 3 anos está aprendendo a excluir CORES de sua vida porque são de menino! CORES! Crianças pintam, desenham, e ela vai pintar um mundo rosa e vermelho e lilás porque são cores de meninas!
Maureen, em pleno voo!
Marta, fazendo o que pouc@s fazem tão bem quanto ela
 Escolhemos o colant azul porque era a cor mais bonita das que a vendedora nos apresentou. Não estamos lhe empurrando o azul de goela abaixo, mas é uma cor que está na vida de Marina assim como os inevitáveis e tão lindos quanto as demais cores cor-de-rosa e lilás. 
Não fazemos nada na vida dessa criança que não seja pensado, questionado, escolhido e o que queremos para ela é um mundo possível, expandido e não o restrito mundo de coisas para meninos e coisas para meninas...

PS: Antes mesmo de aprender a falar direito Marina dizia É MEU quando passávamos, em alguma loja, por algum produto cor-de-rosa. Nunca imaginei que a overdose mundial dessa cor fosse algo impensado e encontrei textos interessantes no sítio do Instituto Alana. Aqui, um deles: Abaixo a ditadura do cor-de-rosa.

3 comentários:

Cristiane Iannacconi disse...

Menina! amei sua postagem, acabei de chegar aqui no seu blog atraves do facebook (grupo consumismo e publicidade infantil).
tenho um filho de 3 anos. qd estava gravida todos ficavam indignados qd eu dizia q não queria saber o sexo do bebê: perguntavam logo como é q eu ia fazer o enxoval, q cor seria...
putz! o bebê ainda nem tinha nascido e já queriam colocar limitação.
Parabens pelo ótimo post!

Paulo Caldas disse...

não me preocupo com isso! acho que ela só fala assim com a mãe. comigo não rola! quando vamos sair pego a primeira roupa que tiver na pilha no armário, independente da cor. conto histórias para ela, mostro plantas, flores, folhas e passarinhos e estes elementos têm cores variadas e ponto final. ela nem questiona nada. tem um brinquedo que ela adora: um joguinho de armar cheio de bloquinhos de cores variadas. ela utiliza todos e com eles constrói carros, navios e castelos bem ao largo das definições de gêneros masculino ou feminino. acho que faz só pra aporrinhar a mãe...

Agnes Arato disse...

Olá Patrícia! Menina, a Manu ainda está com 1 ano e 3 meses, então ainda não responde a esses apelos para se enquadrar no que é de menino ou de menina, mas eu já imagino como vai ser daqui há uns tempos. eu também combato isso fortemente - ela não teve quarto rosa e não priorizo isso nos brinquedos, por exemplo - e às vezes sinto que me olham como um E.T.
A propósito, eu e uma amiga estamos começando um blog para mães aqui em Goiânia, posso linkar o seu na nossa página? Abraços!