terça-feira, 19 de maio de 2015

E se cair!? E se machucar?

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Esta postagem faz parte da Blogagem Coletiva da SEMANA MUNDIAL DO BRINCAR 2015

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A questão deveria ser: o que acontece se a criança NÃO se machucar?
Como será a vida de um adulto que nunca se machucou? Como será a experiência do constante medo da dor? Medo do desconhecido é barra! Dizem que todo mundo tem medo da morte, não gosto dessa generalização, mas que seja...será que o medo – na realidade – não seria DO DESCONHECIDO?
Quando minha filha começou ensaiar ficar em pé sozinha o pai dela passou a temer as piores catástrofes. Prevendo o dano que isso poderia causar para a autoestima da mocinha eu procurava fazer o contraponto e sempre que chegava em casa e ela dizia que caiu eu pedia para ver o machucado. Fazia a maior festa, mostrava algum machucado meu (vivo esbarrando nos móveis, então hematomas são capim por aqui) e contava as aventuras de minha infância...Contava as peripécias de minha irmã, que ela adora...E assim fomos levando. Também conversava muito com ele sobre o que realmente era excesso de zelo, tanto que reconheceu e mudou um pouco.
Por esses dias estávamos saindo para ir à feira e ela caiu. Uma baita queda. Correu e caiu, sangue no joelho, cotovelo, barulho de fim de mundo no piso do prédio. Olhei, lavei, tomei-a no colo e fomos para o ponto de ônibus.
Quando encostou seu rosto molhado em meu ombro seu coração ficou juntinho do meu e fui sentindo que desacelerava, conforme eu caminhava tranquilamente e acariciava seus cabelos.
- Mãe, por que você acha bonito criança machucada?
- Porque tem coisas, Marina, que a gente aprende quando é criança e leva pra vida toda. A queda é uma delas. Veja: cai, machuca, chora, levanta.
- É uma sequência? (resultado das aulas de matemática)
- Sim, exato, uma sequência! E vai ser assim a vida toda: cair, sofrer, chorar e levantar. Se você não aprende logo isso, pode ser que caia e fique lá, parada, entende?
- Mas adultos não caem, só crianças...
- Olhe, são quedas diferentes. Quando suas primas não passam na prova é um tipo de queda: cai, sofre, chora e levanta. Elas levantam quando refazem a prova e passam de ano. Quando separei de seu pai: caí, sofri, chorei e agora estamos todos bem. Você só precisa lembrar da sequência. Daí se a gente não aprende, fica no meio do caminho...não levanta ou não para de chorar...
Chegamos à parada de ônibus e sentei com ela no colo ainda, chorosa, dengosinha
- Quando eu for velhinha e você for grandona eu não vou poder levar você no colo, mas quando eu estiver lá sentada na cadeira de balanço e você tiver caído pode sentar desse mesmo jeito no meu colo e ficar atééééé parar de chorar. Depois você levanta e continua. Você sempre vai ter o meu colo e o de seu pai. Não esqueça disso.
O ônibus chegou, fizemos a feira, voltamos para casa, assistimos a desenho animado, lemos e lá pelas tantas bateu uma vontade louca de comer temaki. Rumamos ao shopping, jantamos, tomamos profiterole e voltamos para casa de van (transporte alternativo vindo de outras cidades), o que para ela é uma aventura sem fim!
À noite sempre escrevemos em nosso Caderno da Gratidão. Cada uma diz pelo menos cinco coisas pelas quais é grata à Vida naquele dia.
No segundo item de Marina ela escreveu
“Hoje prendi a levantar”
Sim, chorei. Ca-la-ro J
- Mãe, seu nariz tá vermelho, você vai chorar. O que foi que você leu aí?
Sorri, repleta de felicidade
- Fiquei feliz porque você aprendeu a levantar...
- E vai ser sempre assim, mãe, uma sequência!


E então, retomando à questão inicial: o que acontece à criança que não cai? 

2 comentários:

Luma Rosa disse...

Oi, Patrícia!
Difícil é encontrar uma pessoa que nunca caiu na vida, mas as crianças quando muito mimadas custam a aceitar a queda e demoram mais para se levantar. Algumas nem se levantam mais e passam a vida a lastimar como se tudo de ruim acontecesse apenas com elas. Existem também os inconsequentes que caem novamente antes mesmo de se recuperar da queda anterior.
Esse diálogo que mantém com sua filha é super importante, pois ela terá sempre a certeza que não é a única pessoa a sofrer por alguma coisa.
Sua filha além de inteligente é muito meiga!
:)
Beijus,

Patrícia Santos Gomes disse...

Obrigada pela visita, Luma!
Na última reunião nacional da Aliança pela Infância soubemos de algumas escolas que protegem as quinas das pilastras com emborrachados para as crianças não se machucarem durante o recreio. Recreio esse cujo tempo foi diminuído e mal dá tempo de lanchar e que acontece num ambiente calçado e desejosamente asséptico. Caixa de areia, nem pensar! Na escola de Marina há caixa de areia e a secretária fez questão de dizer que era lavada com cloro toda semana quando nos apresentou os ambientes - mal sabia ela que tudo o que eu queria naquele dia era encontrar uma escola com sala sem condicionador de ar e com caixa de areia, por mim se tivesse cocô de cachorro tava bom demais!
Marina é uma figura, Lumita, desde bem pequena sempre foi uma ótima companhia, eu sempre lhe digo isso.
Bessos mis, querida!